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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 25 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Silêncio, o primeiro dever do cidadão

Waldir de Luna Carneiro

Carlyle, historiador escocês, tinha verdadeiro pavor de ruídos; nem o canto do galo, nem o rodar de um coche, nem o tiquetaque do relógio ele suportava. Sua mulher teve que comprar e dar fim a todos os galos da redondeza. Conta-se também que Goethe detestava o barulho, assim como santo Tomás de Aquino, que não suportava um trovejar anunciando chuva, e Leonardo da Vinci. Schiller, o dramaturgo alemão, costumava dizer que ´O silêncio é o primeiro dever do cidadão´. Eis aí uma bela frase para outdoors, pára-choques de caminhão e lojas.
´Dos nossos clássicos cinco sentidos - escreveu o professor Berardinelli -, o ouvido é o mais desamparado e infeliz.´ E Gustavo Corção acrescentava: ´Porque ele não tem pálpebras. Mas é justamente essa deficiência´ - continua o autor de ´A Descoberta do Outro´ -, ´que tantas vezes lamentamos, que vem marcar o caráter principal da audição. Há entre a visão e a audição uma diferença de comportamento que pode ser enunciada assim: enquanto o normal para a vista é ´estar vendo´, o normal para o ouvido ´é não estar ouvindo´.
Os sábios romanos, no tempo de Justiniano, compreendiam a importância do silêncio; tinham empregados especiais nos palácios encarregados de manter o silêncio. Na última guerra mundial, os aviões Stukas portavam sirenes que funcionavam nos mergulhos para bombardear. Faziam dos decibéis arma de guerra.
E voltando ao professor Berardinelli: ´Urge a criação de um novo instituto jurídico, que se poderia dominar ‘o direito do ouvido alheio’´. E o Ministério da Saúde emitiria cartilhas citando Bernardo Houssay, Nobel de fisiologia, em castelhano para melhor impressionar: ´...los ruídos traen modificaciones generales em los enfermos y sanos, disminuyen el sueno, aumentan el trabajo del corazon, traen lesiones del oido muchas veces irreparables...´
Paulo Mendes Campos já escreveu que no Brasil as leis são como vacinas, umas pegam, outras não. A do silêncio nunca pegou. A barulheira está além do suportável; uma simples motocicleta com alto-falante ruge mais que um trio elétrico.
Há poucos dias, véspera de Natal, numa loja de eletrodomésticos, constatamos um fato extraordinário: um provável comprador, meio caipira, chegou ao vendedor e perguntou se aquele aparelho de som ´avançava longe´ (como se estivesse comprando uma espingarda). A resposta foi imediata: o vendedor, para demonstrar, abriu o som ao máximo.

(Transcrito do jornal O Tempo, de 13/01/2009)

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