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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 25 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Doença de Chagas, o retorno

Adriano Souto*

Dos 11 princípios de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler, o mais conhecido é o que prega que ´uma mentira repetida mil vezes se converte em uma verdade´. É o que está acontecendo com a Doença de Chagas, que atinge, em especial, a população mais pobre, aquela que vive em casas de pau a pique, cujas frestas são o esconderijo ideal para o barbeiro transmissor. Há anos, difundiu-se a ideia de que a Doença de Chagas acabara no Brasil. Trata-se de uma mentira, repetida mil vezes, que se converteu em uma ´verdade´ no inconsciente coletivo. Infelizmente, continua sendo uma mentira: a Doença de Chagas não foi erradicada.
Quem garante é o cardiologista Rosemberg Medeiros, do Prontocor, principal hospital especializado em doenças do coração em Montes Claros. O circuito da Doença de Chagas, onde ela é endêmica, compreende o cerrado do Norte de Minas, Goiás e Sul da Bahia. Em especial, no Norte de Minas, Barreiro da Raiz (distrito de Janaúba), Botumirim, Cristália, Itacambira, Grão Mogol, Coração de Jesus e Juramento, região onde o médico Carlos Chagas, em 1909, quando realizava uma campanha contra a malária que atingia os operários que trabalhavam na construção da Estrada de Ferro Central do Brasil, identificou o protozoário ´Trypanosoma cruzi´, que é transmitido pelo barbeiro, também conhecido como ´chupão´ ou ´bicudo´.
Vindos de todos estes municípios, além do Sul da Bahia, os portadores do Mal de Chagas desembarcam em Montes Claros, maior centro encravado no vasto sertão entre Belo Horizonte e Salvador, em busca de serviços médicos. Dos vários hospitais de Montes Claros, dois se destacam no atendimento da Doença de Chagas: o Prontocor e o Hospital São Lucas. Nos dois, há 20 anos labuta o cardiologista Rosemberg Medeiros, hoje um dos maiores especialistas do país em se tratando de Chagas. Rosemberg, discípulo do doutor João Valle Maurício, que em sua época enfrentou a fase mais aguda da proliferação da doença, tem hoje autoridade suficiente para falar a respeito, já que se encontra no meio do furacão, onde está a população chagásica – e onde novas pessoas continuam a ser contaminadas.
Estatísticas do Prontocor e do Hospital São Lucas mostram que são chagásicos 40% dos pacientes internados por causa de Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) e Arritmia Cardíaca. Com arritmia cardíaca, o coração pode não ser capaz de bombear sangue suficiente para o corpo, o que pode danificar o cérebro, coração e outros órgãos. ´Se o barbeiro continua aí na natureza, mais próximo, agora, com o crescimento urbano e o desmatamento; se seu reservatório natural, o tatu, continua vivendo no cerrado; se o barbeiro não mudou o seu hábito alimentar e continua a chupar o sangue das pessoas, já contaminadas e os não-contaminados; se as casas continuam de pau a pique; e se a Sucam não mais combate o barbeiro como antigamente, como se pode falar que o ciclo foi quebrado, que a Doença de Chagas acabou? Garanto que não´, atesta o cardiologista.
Outro problema é que, com a descentralização do atendimento e a responsabilidade do combate nas mãos das prefeituras, muitas vezes não existem pessoas habilitadas a diagnosticar a doença. No cotidiano, faltam até remédios. E há outra denúncia, que merece a atenção do Ministério Público: na maioria das vezes, o que se constata nos pregões das prefeituras é a compra de remédios pelo preço mais baixo. O que tem acontecido é a compra de medicamentos ´similares´, nem sempre eficazes, que os laboratórios vendem mais barato porque não precisam fazer testes, ao contrário dos ´genéricos´ e dos remédios de marca.
Barbeiro solto por aí, chupando sangue de pessoas contaminadas - e também do restante da população, rural e na periferia urbana. É o cenário ideal para a Doença de Chagas. Ainda mais agora que os recursos para o combate ao barbeiro foram desviados para combater a dengue.

(*) Adriano Souto é editor-adjunto de Política

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