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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 25 de setembro de 2024
 

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Mensagem: A didática do professor Márcio Alberto Sena Era o primeiro dia de aula de Português. Nós estávamos excitados com o início de nova fase da vida estudantil. O professor era nosso conhecido, de nome, apenas: José Márcio Aguiar. Famoso na cidade por ter sido professor de gerações anteriores à nossa, logo que foi dado o sinal para o início da aula, toda a classe estava acomodada em seus devidos lugares. O professor entrou trazendo uma pasta preta numa das mãos e papéis na outra. Márcio Aguiar cumprimentou a turma logo na entrada. Tinha os cabelos bem penteados, certamente untados de brilhantina, tão na moda naqueles idos da década de 1960. Usava guarda-pó branco e calçava sapatos marrons de salto um pouco mais alto que o normal. Ele pôs a pasta e os papéis sobre a mesa e olhou a turma de um canto ao outro como quem quisesse guardar a fisionomia de cada um. Éramos mais de 30 jovens, a maioria do sexo feminino. Naquela época, a Escola Normal era como uma catedral do ensino em Montes Claros. O detalhe é que o casarão já carecia de uma reforma. Tínhamos notícia de que, volta e meia, o reboco das paredes caía e até o forro de madeira pintada de azul deixava cair pedaços de vez em quando (Houve um dia, em plena aula, que um pedaço do forro desabou e saímos correndo da sala). Mas no primeiro dia de aula do professor Márcio, uma sumidade em matéria de Língua Portuguesa, ele se apresentou como era praxe, e, em seguida, perguntou o nome de cada um. Ficamos esperando o que aconteceria depois. Guardando silêncio, ele andou de um lado para o outro à frente da lousa, chamada quadro negro, e depois iniciou a aula contando o que sempre contou aos seus alunos – posso assegurar, sem medo de errar, muitos dos seus ex-alunos que porventura estiverem lendo este texto vão se lembrar: o professor Márcio contava a mesma história a todos, sempre no primeiro dia de aula, e como era de didática rica, não deu para eu me esquecer dela. Ele iniciou: “um homem ia andando tranquilamente pela rua, em um belo dia de sol, quando, para sua surpresa, foi interceptado por um assaltante lhe apontando revólver”. Aqui, cabe um parêntese: (assaltante a mão armada era incomum naquela época. O máximo que acontecia na cidade era ocorrência de ladrão de galinha. Assalto a mão armada é próprio dos nossos dias, quando Montes Claros registra os mesmos problemas de segurança das metrópoles brasileiras). Fechado o parêntese, o professor prosseguiu a narrativa: “o homem levantou os braços ao se vir ameaçado pelo assaltante armado, que, ato contínuo, disse: “te mato”. O homem, mais surpreso ficou com o que acabara de ouvir da boca do assaltante – “te mato” – do que com a arma propriamente dita. E sem a menor cerimônia, respondeu ao assaltante: “mata-me, faças tudo que quiseres, mas nunca empregues um pronome oblíquo no início da frase.” (Em verdade, o pronome oblíquo é uma forma variante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação na forma do pronome indica tão somente a função diversa que ele desempenha na oração: pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento verbal da oração). E para surpresa nossa, que esperávamos um fim mais trágico do caso, o professor encerrou a narrativa dizendo que o assaltante, “com a cara de bobo”, simplesmente abaixou a arma e desistiu de assaltar o homem. Achamos o final da narrativa meio sem graça, mas marcou-nos o bastante e ficou gravado na memória para sempre. Lembrando agora desse episódio, podemos tirar de duas uma conclusão: mudaram a língua portuguesa ou certas pessoas, inadvertidamente, usam nos dias de hoje o pronome oblíquo no início da frase porque não tiveram um professor como José Márcio Aguiar.

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