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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 11 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Mi-carême dos anos 26

Ruth Tupinambá Graça

Foi numa noite de Mi-carême num sábado da Aleluia.
O antigo Cine Montes Claros’, apenas um galpão enorme, sem forro, de piso cimentado.
Naquela noite, entretanto, ele estava bonito na sua estrutura grotesca, ornamentado com máscaras de Pierrôs e Colombinas, serpentinas multicores, que lhe davam um aspecto alegre e festivo. A fina flor da sociedade montes-clarense se divertia ao som alegre e contagioso das músicas carnavalescas.
O lança-perfume, que ainda não fora proibido, tomava o ambiente excitante e com cheiro de pecado... e até mesmo o jovem delegado; Dr. Marcelo Burlamarque, muito educado e bonitão, (recém-chegado de Belo Horizonte) e que já conquistara a simpatia da cidade e os corações das sertanejas, se esquecera, um pouco, a severidade da sua profissão e também puxava o cordão ..
Lá pela madrugada, quando os galos anunciavam o alvorecer, a festa acabou.
Os foliões saíam apressadamente, aglomerando-se impacientes na calçada.
Inesperadamente, para espanto de todos, surge, montado num cavalo fogoso um ´vaqueiro´ com roupas e chapéu de couro, o rosto oculto por uma tinta preta; parecia realmente um negro retinto.
O cavalo empinou, levantando as patas dianteiras, como se fosse saltar, e o cavaleiro disparou o revolver à queima-roupa, em cima das pessoas que saíam da festa.
Foi terrível e assustador. Naquela hora trágica, estabeleceu-se o pânico entre os presentes, enquanto uma segunda descarga provocava correrias inconscientes, pelas ruas adjacentes, numa confusão justificável.
Aproveitando tumulto o criminoso fugiu, em disparada, sem que a polícia lhe pusesse as mãos, escapando assim do flagrante e da prisão.
Mas todos o reconheceram, apesar do disfarce. Era Chico Dominguinhos, protegido pelos coronéis daquela época, e infelizmente um montes-clarense da nossa sociedade, mau caráter, conhecido de todos, célebre pela valentia, arruaças noturnas e desordens na cidade.
Era o valentão que intimidava e batia nas prostitutas; nos cabarés, humilhava e zombava dos mais fracos.
Tinha as “costas quentes”, acobertado pelos coronéis, recompensa pelos serviços prestados como pistoleiro.
Infelizmente nossa cidade era, naquela época dominada pelo coronelismo, que usava e abusava do prestígio político, cometendo, muitas vezes, grandes injustiças e muitas perseguições.
Mas aquele vaqueiro disfarçado queria acertar numa só pessoa e o conseguiu.
Cessado o tiroteio, na rua semideserta, verifico-se que havia um corpo na calçada. Era do jovem delegado atingido no peito, envolto em uma onda de sangue.´
Por uma pequena rixa, o célebre bandido tirou a vida do delegado, que, na sua ingenuidade, sonhou por ordem e justiça na nossa cidade. Era honesto e corajoso. Seu pecado foi desacatar os ´mandatos´ dos coronéis.
Dias antes, durante uma busca noturna na periferia da cidade, ele desarmou o ´pistoleiro´ assassino, proibindo, de modo geral, o uso de armas sem porte.
Fato simples e natural numa cidade civilizada. Isto fora o bastante para enfurecer o “valentão”, {que se sentiu ofendido} jurando matá-lo, e o fez naquela noite trágica do Mi-carême.
Foi um final infeliz para a carreira promissora do jovem bacharel, que chegara a Montes Claros, cheio de esperanças, e uma nódoa feia, que durante muitos anos, manchou o nome da nossa cidade.
O criminoso ficou foragido durante algum tempo. Anos depois, voltou e andava tranqüilamente pelas ruas.
Deve ter sido julgado simbolicamente, saindo livre, num `júri muito especial´.

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