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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

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Mensagem: A capital em que a paz pontifica

Manoel Hygino (jornal ´Hoje em Dia´)

O que mais encanta os turistas que vão a Santiago é o ambiente de ordem e tranqüilidade que ali se respira. Pode- se transitar sem temor pelas ruas, não há a sensação sombria de possíveis balas perdidas, de espectros disparando armas de detrás das árvores e nas esquinas.
Depois de tudo que ocorreu, e não foi pouco em termos de violência, os fantasmas vingativos estão desaparecidos. A truculência, a tortura e a traição são registros passados, que se confia não mais voltem.
Os quartéis, com seus generais, que fizeram movimentos e deram golpes, estão silenciosos. Sua função é manter a ordem e assegurar que os chilenos gozem da alegria de viver, de liberdade, de trabalhar conscientemente para o bem coletivo e a felicidade de cada cidadão.
O jornalista Paulo Narciso, que por lá esteve, trouxe a melhor das recordações, mercê desse clima de paz, compreensão e solidariedade. As vias públicas são pacíficas e as pessoas se sentem bem nelas.
Carmen Netto (e não a artista plástica Helena Netto) trouxe a mesma impressão, após os primeiros contatos com a capital andina. Santiago lhe pareceu encantadora, com suas avenidas e largas ruas, limpas, arborizadas, parques e jardins, prédios imponentes. As imagens de hoje lhe evocaram as de ontem: o palácio em que se suicidou Allende, a ditadura de Pinochet, os desaparecidos, os fuzilados no Estádio Nacional, a catedral a Santiago, o apóstolo, e à Virgem del Carmen.
Em resumo: Santiago é uma cidade onde nos sentimos em casa. Povo bonito, civilizado, e que pode andar pelas ruas à noite, sem medo, tal a segurança. Tal o respeito que os cidadãos têm entre si e aos visitantes.
Quando Neruda, que ainda não era Neruda, lá chegou, em março de 1921, para ingressar na Universidade, a cidade não tinha mais de quinhentos mil habitantes. O poeta mesmo a descreveu: cheirava a gás e a café. Milhares de casas estavam ocupadas por gente desconhecida e por percevejos. O transporte urbano era em pequenos e desconjuntados bondes, que se moviam dolorosamente, com muito ruído de ferros e campainhas.
Carmen Netto, da Rua Quinze, atual presidente Vargas, é da família Dias, mudou-se para Belo Horizonte, professora aposentada. Escreve com esplêndida espontaneidade, como demonstra em suas cartas de Santiago, como se poderia alcunhar suas memórias. Perto da capital em que Neruda viveu, hoje percorrida por gentes de todo o mundo, sente uma certa nostalgia, como sentiria das paisagens de sua cidade natal, tão próximas ao coração.
Há uma linha de aproximação, quando não de união, entre as pessoas em diferentes épocas, em situações diversas, em lugares distintos. Parece estabelecer-se um liame misterioso. Sinto-me, lendo estas reminiscências tão doces, novamente em Montevidéu, falando a mesma língua, - a amável comunicação, engrandecendo o espírito de solidariedade, que tanto falta em nossos dias.
Na rua Maruri, 513, Neruda escreveu seu primeiro livro. Redigia de dois a cinco poemas por dia. Ao pôr-do-sol, assistia ao magnífico espetáculo diário da natureza, que não perdia por motivo algum.
O livro recebeu o título de “Os crepúsculos de Maruri”. Ao longo de sua agitada vida, jamais alguém lhe perguntou o que significava Maruri. Mesmo entre os residentes na capital chilena, poucos sabiam que se tratava de uma humilde via pública, visitada diariamente pelos crepúsculos mais extraordinários da terra.
Havia poesia em Santiago, porque ela estava no coração e no espírito dos que faziam versos ou dos que, não fazendo versos, traziam-nos dentro de si mesmos.

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