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Mensagem: A briga antiga de facçõesManoel Hygino (jornal ´Hoje em Dia´)Na inauguração do Centro de Especialidades Médicas da Santa Casa de Belo Horizonte, no passado 7 de novembro, pude ouvir o chefe da Nação. Aparentemente, sem dar atenção às críticas de adversários, “não está nem aí”, na expressão popular, Lula está encerrando o primeiro ano do segundo quatriênio.<br>Em sua palavra, o antigo torneiro mecânico usou de metáforas e fez comparações. Ele disse da necessidade de os homens que fazem política no Brasil seguirem o exemplo dos jogadores de futebol. “Quando tem um jogo aqui no Mineirão, em que o Atlético joga com o Cruzeiro, em que os jogadores do Atlético vão com brutalidade no Cruzeiro, e o Cruzeiro com brutalidade no Atlético, vocês não pensem que aqueles jogadores passam o resto da vida um com ódio do outro.<br>Possivelmente, na mesma noite, eles estejam jantando juntos; na semana seguinte, estão fazendo atividades juntos, se encontram, comem churrasco, fazem um monte de coisas juntos. A política poderia ter esse ensinamento para que as coisas pudessem ser facilitadas.<br>O fato de a pessoa “A” disputar uma eleição com a pessoa “B” não está determinando que eles serão inimigos pelo resto da vida... Mas na política não é assim, porque muitas vezes na política se semeia ódio, se semeia mentiras.”<br>As observações do presidente me lançaram a dois artigos - ou crônicas - de Ruth Tupinambá Graça, que guarda propagáveis lembranças dos seus verdes anos, conservados agora nos seus mais de 90. Ela evoca o tempo da cidade natal, governada e dividida por dois partidos: o dos moradores das ruas de Baixo, os Estrepes, e os das ruas de Cima, os Pelados.<br>Uma tradição que atravessou décadas. Havia rivalidade entre ambos, na política, nas celebrações religiosas e nos acontecimentos sociais. Os rapazes só podiam namorar as moças do mesmo partido. Em tudo dominavam fofocas e fuxicos, intrigas não faltavam.<br>Quando se aproximava o Carnaval, acirravam-se os ânimos. Cada um queria fazer melhor que o outro. Os foliões de Baixo faziam valer seus conhecimentos, organizavam blocos, carros alegóricos, desenhavam fantasias, criavam canções e promoviam ensaios. O mesmo ocorria com a turma de Cima. Moços audaciosos vestiam roupas femininas, como nas capitais, punham um sutiã improvisado e rebolavam desajeitadamente, ao som do conjunto musical, o bumbum sertanejo. Admiração e escândalo. As beatas fechavam as janelas e se persignavam. E havia pierrô apaixonado, que vivia só cantando, por causa de uma colombina, e acabou chorando, chorando.<br>A animosidade era histórica. Os habitantes da parte de Baixo eram os mais antigos da cidade, de famílias tradicionais, chegaram primeiro, assistiram ao desenvolvimento local. Os de Cima eram pessoas que chegaram mais tarde, procedentes das fazendas, lugares vizinhos. Construíram casas melhores, modernas, instalaram pensões, farmácias e lojas na cidade florescente.<br>Os de Baixo não toleravam os de Cima, e a recíproca era verdadeira. Uns se julgavam superiores aos outros e a rivalidade, acirrada, atravessou décadas, produzindo incidentes políticos graves.<br>Em âmbito social, as arestas e desavenças resultaram em fugas de donzelas para juntar- se ao amado do outro grupo. Ocorreram raptos, e mortes se registraram, em grande número. Elza, 18 anos, linda, morena de olhos castanhos e farta cabeleira ondulada, apaixonou-se por um jovem, belo e educado. Mas pertenciam a partidos políticos adversos.<br>Ruth Tupinambá escreve que a moça fugiu para o aconchego amoroso e o inocente encontro virou escândalo. Sentindo-se humilhado e traído perante a sociedade, o pai castigou a menina com uma grande surra, de que todos tomaram conhecimento. Desesperada, ela se suicidou, com soda cáustica.<br>O Romeu da história não fez o mesmo. Pragmático, deixou a água correr sob a ponte. Anos após, casou-se com uma bela moça, de seu partido é claro, e foi feliz por toda a vida, como nos velhos contos.
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