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Mensagem: Deus te salve, ó Casa Santa<br><br>Manoel Hygino (jornal ´Hoje em Dia´)<br><br>Curitiba é uma bela cidade. E moderna.<br>Avançada em termos de transporte urbano. E de educação dos motoristas. Prova-se pelo respeito às pessoas, reduzindo decibéis e mantendo a mão longe da buzina. E tem o Bairro Felicidade, com delícias do bem comer, a preços acessíveis.<br>Curitiba tem o chamado Castelo Encantado, antiga sede do Bamerindus. Pelo Natal, crianças se apinham em suas janelas iluminadas para cantar amáveis músicas.<br>Este ano, já se ouviram belas composições. Uma que, segundo li, emocionou foi o “Deus te salve, ó Casa Santa”, que os catopês norte-mineiros se ajoelham para entoar de cabeça baixa, há mais de 200 anos.<br>Há numerosas versões sobre as Folias de Reis, cantadas em distantes regiões do Norte de Minas. Muitas e belas, interpretadas com devoção sincera e grande respeito. Constituem tradição arraigada, sobretudo na Zona rural. Os foliões são homens simples, que têm devoção aos Santos Reis. Todos os anos saem a cantar, angariando esmolas e visitando os presépios.<br>Hermes de Paula relata que os foliões não tocam nas ruas ou em caminho, restringindo-se a andar silenciosamente. À porta da casa que visitarão, rompem o toque de uma vez, até surpreendendo o morador. O ritual é sempre noturno, o dia foi feito para descansar.<br>O grupo é de quatro a oito pessoas. Instrumentos, uma rebeca, violas e bateria. Roupa, a de sempre, chapéu invariavelmente na cabeça. Uma toalha comprida ao pescoço com as extremidades soltas à frente, por cima de paletó. Um porta-bandeira carrega a estampa dos Santos Reis e coleta as esmolas. A música da folia varia pouco, o que acontece também com as letras.<br>Beto Guedes fez composições apreciadas sobre o tema. Tavinho Moura adaptou-o à sua maneira e jeito, rastreado na tradição: “Ó Deus salve o oratório/Ó Deus salve oratório/Onde Deus fez morada, olá meu Deus/Onde Deus fez a morada, olá/Onde mora o Calix Bento/E a hóstia consagrada, olá meu Deus/E a hóstia consagrada, olá/De Jessé nasceu a vara/De Jessé nasceu a vara/ da vara nasceu a flor, olá meu Deus/Da vara nasceu a flor, olá/E da flor nasceu Maria/E da flor nasceu Maria/De Maria o Salvador, olá meu Deus/De Maria o Salvador, olá.”<br>Téo Azevedo, norte-mineiro radicado em São Paulo, instalou um quartel-general avançado (?) em Alto Belo, para celebrar anualmente a Folia e manter a tradição. Para comemorar os 25 anos da Folia de Alto Belo, fez uma publicação resumindo o assunto.<br>Conta que a Folia veio de Portugal. Lá, por volta do século XIV, os estudantes, na noite de Natal, com alguns instrumentos musicais, criaram o costume de se reunir para cantar e saudar o nascimento do Menino Jesus nas portas das casas.<br>Os donos das habitações convidavam os cantantes a entrar e entoar as letras na sala. Quando havia uma imagem do Menino Jesus, os foliões faziam uma saudação, com cantos festivos alusivos à data. Serviam-se bebidas e comidas e, depois, repetiam a cena em outras residências para quem quisesse recebê-los. Os donos das casas davam dinheiro ao grupo, para aplicação nas festividades de 6 de janeiro, Dia de Reis. Mas nada obrigatório.<br>Diz-se que a primeira viola veio de Portugal trazida por Anchieta, que teria ensinado como tocar o instrumento. Primeiro, aos índios e, depois, aos negros. Embora disseminado por vários estados, no Norte de Minas o costume mais se aprofundou. Delicia os homens e mulheres dos grotões, que se sentem felizes vendo os filhos aprendendo as letras e assimilando a melodia.<br>Cândido Canela e Téo criaram o “Umbu Lundu”, cujo texto é o seguinte: “Fruta Azeda é umbu/ Dança doce é lundu - Quem deseja pissuí/ Amô de muié alêia/ Tá cum pé na simpurtura/ E outro é na cadeia.<br>Duas coisa nesse mundo/ Acho feio aqui vos falo/ É homi carregá troxa/ E muié puxá cavalo - Batom no beiço de moça/ Um belo gosto disperta/ No palitó dos marido/ É pé de briga na certa”.
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