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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 26 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Inofensivos Doidos Mansos<br>Ruth Tupinambá Graça<br><br>Até os anos 40 ou talvez mais um pouco a nossa Montes Claros, Princesa do Sertão, era realmente uma princesa muito pacata, livre dos ladrões, assassinos e tarados, não se falava em seqüestros, estupros e violências.<br>Podíamos sair de casa á noite, dormir de portas abertas.<br>Os poetas cantores faziam serenatas altas horas, sem nenhuma preocupação de assaltos ou coisas semelhantes. As ruas mal iluminadas eram o ideal para os namorados aproveitarem o luar dando rédeas ás emoções do coração, não correndo o risco de serem violentados.<br>As crianças brincavam livremente nas Praças á noite, andavam sozinhas, os jovens freqüentavam Clubes livre dos assaltos.<br>Que saudade eu tenho daminha infância! Como eu tinha liberdade e como aproveitei bem aquele período tão bom da minha!<br>Sinto que o mesmo não acontece aos meus bisnetos, que hoje vivem presos em apartamentos como passarinhos engaiolados. Não existia perigo nenhum em nossa cidade.<br>Aparem apenas, de vez em quando, ‘Doidos Mansos’ inofensivos, que se descansarem, atormentados muitos vezes, pela criança que, maldosamente atiravam-lhes pedras arreliando só para vê dizerem palavrões.<br>Não causavam nenhum mal a nossa cidade e nem mesmo aquelas crianças malvadas.<br>À noite dormiam sob as marquises ou qualquer arvore, ao relento, deitados no chão duro, tendo como travesseiros, monte de papelão sujos catados nas ruas.<br>Se sentiam frio ou fome, ninguém se preocupava {falha do ser humano} e aqueles pobres permaneciam encolhidos, minguados como seu próprio destino, mergulhados em sua miséria de corpo e de espírito.<br>Embora desmemoriados (o cérebro é um enigma) e naturalmente acordados os “sonhos” vinham como uma recompensa divina, um presente do céu para amenizar-lhes o sofrimento. Alguns sonhavam que eram reis ou príncipes e como tais se compenetravam julgando que tudo à sua volta lhes pertencia, tinham visões.<br>Outros, entretanto, sentiam-se como soldados em guerra. Quantas vezes os viram marchando pelas ruas, com um porrete ao ombro, aflitos, atormentados, como se ouvissem o rebombar ensurdecedor dos canhões...<br>Havia ainda os que se julgavam poderosos, tinham até lar, família, filhos e riquezas... e<br>viviam a procurá-los, falando sozinhos, dando ordens como se fossem chefe de família e até sorriam absorvidos naquele mundo fantástico!<br>Outros mais audazes faziam discursos, em voz alta, pregando religião como se fossem padres ou pastores, enrolando a língua num “falso inglês”.<br>Os populares, muitas vezes, paravam par ouvi-los e até se distraiam á custa daqueles pobres desmemoriados. Não me lembro dos seus nomes, mas foram muitos que, quando criança, os vi percorrendo as ruas da nossa cidade, e fora destas alucinações, muitas vezes, apáticos encostados às portas de um boteco ou padaria, esperando pacientemente uma esmola.<br>Muita gente ainda se lembra destes pobres coitados, almas simples, sem maldades.<br>Ninguém sabia de onde vinham nem pra onde iam.<br>Até poucos anos, ainda perambulava pelas ruas o “Galinheiro”, um destes desmemoriados. Mal podia andar, falava muito e tudo que encontrava pelas ruas ia pendurando em volta do seu corpo, por todos os lados, parecia mais uma árvore de natal.<br>Ninguém sabia nem ele mesmo, o que faria com tanto penduricalho.<br>Hoje nossa cidade é civilizada e cheirosa. Raramente se vê um esmoler ou um destes malucos pelas ruas, e quando isto acontecer as autoridades responsáveis tomam as devidas providências.<br>Infelizmente ao contrario da tranqüilidade de outrora, a violência domina nossa cidade.<br>Ao invés dos Doidos Mansos, que em nada nos prejudicavam, os arados, estupradores, ladrões e assassinos tomaram conta da cidade, tirando nosso sossego.<br>A todo o momento surgem terríveis casos de violência, que nos amedronta, causando pavor a toda comunidade. Nem sempre as autoridades conseguem captura-los, continuam soltos e cada vez mais perigosos.<br>Enquanto isto, a população é que sofre e permanece presa, enclausurada por trás dos altos muros e as cercas elétricas que se multiplicam, dia a dia em nossa cidade.<br>

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