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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 26 de novembro de 2024
 

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Mensagem: ÚLTIMA NOITE <br><br><br>Na última noite do ano, a mesma madrugada de sempre, na cidade. <br><br>Num tempo que todos os gatos ainda eram pardos. De noite.<br><br>A chuva era leve, mas já tinha sido pesada durante o dia.<br><br>Sempre um barulho de misteriosas pisadas na calçada - bem atrás - a perseguir as viv’almas da rua, boêmios amadores e ocasionais, cansados de tanto gole e festa, querendo apenas chegar em casa, deitar, dormir e sonhar com todas as venturas passadas. <br><br>Na rua, rangendo pneus, a bela caminhonete, verde musgo. <br><br>Amigo, de longa data, dirigindo, alegro, ma non troppo. <br><br>Carona para apenas mais um quarteirão que faltava.<br><br>Melhor que não, falta pouco, diplomacia de velhos amigos que continuarão sempre assim.<br><br>Uma acelerada a mais, em fingida chateação pela perda de uma possível saideira que, certamente, se transformaria em mais um desabafo daquele traiçoeiro amor que acabara de lhe machucar o coração, eis que a caminhonete sai do prumo e roça um poste de luz ( inadequadamente colocado no passeio, na visão dos presentes ) , tirando-lhe maiúsculas raspas de cimento que duraram até o passe e repasse das vassouras das varredeiras, ao nascer do sol.<br><br>Estas tagarelavam sem parar, mergulhadas na sua própria vida, noutro distante lugar dali.<br><br>Funcionárias públicas e indiferentes à passagem das senhoras de preto, descendo lentamente a rua em direção à igreja.<br><br>Queridas beatas, oficiais e de direito, eternamente inconsoláveis, dedicadas agora somente à contrição, o amor à família, à religião, à amizade com os padres, comissários de Deus, á espera do último check-in para a derradeira viagem às maravilhas do grande paraíso prometido.<br><br>Que assim seja. E orai por nós.<br><br>No outro dia, o telefone, a mãe, o pai, um aviso te interrompe os sonhos.<br><br>O Rio Vieira, ali mesmo à porta, cheio, a água cor de chocolate passando por cima da ponte de Simeão. <br><br>A caminhonete do amigo, mergulhada, de frente. <br><br>Mal dá pra ver a placa na carroceria. <br><br>Na preocupação geral, ele, todo molhado, sentado no barranco, dá um lânguido olhar para a placa que já lá ia acabando de sumir na água, grita pros amigos:<br><br>- Aprendi a nadar foi na Praça com Zé Sabu, gente! <br><br>E dali, pura alegria, saímos pra rebater.<br><br><br><br>Um abraço e feliz ano novo para todos.<br><br><br>Flavio Pinto

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