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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Saudosas Festas da Matriz<br> <br>Ruth Tupinambá Graça<br><br>Durante o mês de maio era uma festa constante. Toda a população freqüentava as novenas e as coroações de Nossa Senhora eram animadas.<br>A praça da matriz (hoje Dr. Chaves) foi sempre a minha predileta. Ela me traz belas recordações da minha infância, adolescência e juventude. Jamais me esquecerei das “retretas”, aos domingo à noite, quando a banda Euterpe Montes-Clarense {infelizmente extinta} enchia o ar com o som melodioso dos seus reluzentes instrumentos, com os dobrados valsas, enquanto brincávamos alegres correndo em volta do Coreto. Foi nesta praça que eu morei há muitos anos e cresci vendo todas as comemorações religiosas na Matriz de Nossa Senhora e São José.<br>Os anjos, com seus vestidos de cetim, cheios de estrelinhas, e as asas de pena de garça, e seus cantos inocentes eram os símbolos do amor a Nossa Senhora.<br>Terminada a coroação todos os anjos convidados esperavam ansiosos os “cartuchos” (cheios de doces e balas) que os pais lhe ofereciam.<br>Do lado de fora o leilão já esperava os fieis. As enormes touceiras de cana, encostadas á porta da igreja, balançavam suas folhas como bandeiras desfraldadas, convidando a população.<br>Uma enorme mesa cheia de doces, biscoitos, frutas numa grande variedade, colocados em bandejas enfeitadas com papel crepom bem colorido. A celebre “ceia”, onde o lustroso peito de peru e o cheiro do tutu com lingüiça, bem temperados aguçavam o apetite de toda aquela gente que, em volta da mesa, davam os lances aos leilões, enquanto o leiloeiro calmamente fazia graças e pechinchavam cada vez mais, visando maior renda para a igreja.<br>Muitas vezes rapazes arrematavam bandejas de frutas ou balas e jogavam para a meninada que, de olhos compridos, “fuzilavam” tais guloseimas.<br>Como era divertida aquela disputa!<br>Tudo era alegria e festa naquelas novenas do mês de maio.<br>Para os namorados então, era a oportunidade para ver a amada e, no escurinho da praça, as mãos se cruzavam, se apertavam, enquanto os lábios passavam levemente pelas faces da namorada que se sentia feliz mas se afastava, evitando os olhares indiscretos.<br>Naquele tempo tudo era um escândalo. Tinha que ser muito discreto, se não coitada da moça, por um simples beijo, caia na “rua da amargura”, tachada de leviana.<br>No mês de março vinha a semana santa, Era a grande festa religiosa, a quaresma com sua “via-sacra”, cerimônias e as representações do sacrifício de Jesus, que muitas vezes, tiravam lágrimas dos olhos dos fiéis. As procissões do encontro e do enterro eram acompanhadas com muita seriedade, amor e fé cristã.<br>Eu ia com minha mãe, à noite, segurando uma pequenina vela que pingava uma cera quente nos meus sapatos, ouvindo o som horrível das “matracas” e a musica fúnebre, enquanto minha mãe rezava o terço e olhava piedosamente para Nossa Senhora das Dores, com uma lança trespassada em seu coração, acompanhando seu filho crucificado e morto.<br>Mais tarde (à meia noite) era a visita do Senhor Morto, para beijar seus pés e colocar esmola.<br>Muitas vezes acompanhei minha mãe (que saudade) e ela me recomendava: “beija os pés de Jesus com respeito, nada de risos”.<br>Eu colocava a moedinha que trazia apertada na mão. Como eu me emocionava! Naquele momento eu achava que tudo era verdadeiro que Jesus sofria com aquelas chagas abertas e os enormes cravos nos pés.<br>No dia seguinte era tudo alegria. Na praça estava o Judas enforcado para ser espancado, condenado pelo crime de traição.<br>Após a leitura do testamento do Judas todos os presentes com cabos de vassoura espancavam o Judas, enquanto outros botavam fogo no réu. A criançada vibrava participando daquela vingança.<br>No dia seguinte, Domingo de Ramos, os católicos enchiam a Matriz e o Padre falava com entusiasmo, os fiéis cantavam: Aleluia, Aleluia! Cristo ressuscitou! E os ramos verdes balançavam nas mãos daqueles católicos! Chegando em casa a mamãe me dizia: “Coloca os ramos no oratório, na sala”, onde uma imagem de Nossa Senhora, São José e um crucifixo de madeira eram testemunhas do nosso amor e nossa fé.

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