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Mensagem: Na internet, ao acaso, desembarco no texto que vai abaixo. Não há assinatura. Tento a certeza de saber quem é o autor, assim no escuro. Conheço duas pessoas inexcedíveis na admiração pública por Monzeca -, Hermegildo Chaves em Montes Claros, sua amada terra. (Ele se apresentava, à Eça de Queirós: ´sou um pobre homem das barrancas do rio Verde...)´ <br><br>Como o autor abre citando Rubem Braga, o cronista capixaba está fora; não pode ser ele, talvez enciumado com o elogio ao Mestre que primeiro é o seu mestre. <br><br>O texto então só pode ser de Mauro Santayana, amigo e colega dos tempos do Estado de Minas, jornal de Monzeca.<br> <br>Para a esmagadora maioria da população de M. Claros, Monzeca é, talvez ainda, a esquecida doce viela de duzentos metros, se tanto, que separa a igreja da Matriz da rua Gonçalves Figueira, antiga rua do Ocidente, perto da outrora Escola Normal, depois Fafil. Doce lembrança, compatível com sua modéstia, e simplicidade..<br><br>Para este Mauro Santayana - pois desconfio que o texto é seu, só pode ser - Monzeca é ´O Grande Mestre´.Pequenino, porém. <br><br>O discípulo, no caso, sabei todos, é o autor dos mais belos escritos que a imprensa do Brasil publica nos últimos 40 anos. Entre eles, também o discurso em que Tancredo Neves, de quem foi redator, repete que ´Liberdade é o outro nome de Minas´. <br><br>Sobre Monzeca, que por acaso veio nesta noite, por Mauro Santayana:<br> <br><br><br>´O grande mestre<br><br>Se Rubem Braga ainda estivesse vivo, concordaria com o meu juízo, porque ambos fomos seus alunos, com mais de duas décadas de intervalo. Era baixo e magro, usava discreto bigode, bem aparado. Quando o conheci, o cabelo era ainda negro, com destacadas manchas grisalhas. Amava a noite, mas não bebia, a não ser café, sempre acompanhado de bolinho de feijão, esse acarajé mineiro sem recheio. Gostava de jogar cartas, perdia com regularidade e parcimônia. Chamava-se Hermenegildo Chaves e detestava o apelido de Monzeca, que lhe haviam dado. Era, naquele tempo, o melhor redator de Minas e um dos melhores do Brasil.<br><br>Como era comum nas antigas redações, havia sido tipógrafo; aprendera a escrever com o tato, conhecia o peso dos fonemas. Isso explicava a magreza de seu texto, que dispensava o supérfluo, economizava advérbios e adjetivos, só admitidos quando convocados pela clareza. Era emotivo, o que o fazia inexcedível nos necrológios. Quando os políticos importantes se aproximavam do fim, Monzeca iniciava as notas sobre o futuro morto. Ia costurando o texto como se bordasse a mortalha, e retocava, dia-a-dia, os adornos, com os recursos da memória. Escrevia só a lápis, em aparas de papel de jornal, com a letra fina, bem desenhada, a pontuação esmerada, os parágrafos definidos.<br><br>Como emotivo, mudava muitas vezes de opinião, e explicava que todos nós erramos e podemos, eventualmente, fazer juízo equivocado sobre os outros. Só recorria às idéias para explicar os homens. Quando se agravou a crise de agosto de 1954, Monzeca revelou seu lado conservador, quase reacionário, reclamando, com elegância que faltava a Lacerda, a limpeza do Palácio do Catete. Estava de acordo com seu passado, quando, em 1930, se somara, em Minas, à Concentração Conservadora, contra a Aliança Liberal, e fora amigo íntimo de Mello Viana. Mas, com o suicídio de Vargas, mudou de posição, e definiu a situação como tragédia shakespeariana.<br><br>Não se curvou aos ídolos da época que se mantinham contra Vargas, depois da morte do presidente. Quando Alceu Amoroso Lima publicou, no Diário de Noticias, seu famoso rodapé com o título de Sangue e Lama, Hermenegildo Chaves foi cáustico, terminando por dedicar ao pensador brasileiro o juízo de Jean Cocteau sobre François Mauriac: nele tanto mais se afirmava o católico quanto dele se distanciava o cristão.<br><br>Os jornalistas são seres efêmeros, sobretudo quando sua carreira se passa, toda ela, na província. Mesmo em Belo Horizonte, os jovens jornalistas não sabem mais quem foi Monzeca, senhor de texto impecável e de inexcedível modéstia. Sou grato ao destino por ter com ele convivido. Se não pude, como pôde Rubem Braga ter sido bom aluno, pelo menos aprendi com ele o exercício da dúvida.´
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