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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 21 de setembro de 2024
 

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Mensagem: BALA, QUATRO OLHOS VERDES E ARREPIOS AO SOM DE CHET BAKER.

Terça, 22.01.2008, desembarco na capital das Alterosas, com dois dias de antecedência da data marcada para exames do marcapasso no laboratório da UFMG, visando também almoçar com os escritores Felippe Prates e Augusto Vieira, o Bala Doce, como de costume, no “Rei da Empada”, do Mercado Central.
Felippe, com problemas de cicatrização de recente cateterismo e de malas prontas para a cidade maravilhosa, transferiu sua quota gastronômica ao Bala, para quem liguei e logo me veio à mente a figura terna da jornalista Márcia “Yellow” Vieira, a quem ele carinhosamente chama de “prima”. Nascida sob a égide do signo de Câncer, essa flor do Jardim Suspenso de Iemanjá tem os olhos translúcidos como os da Marcinha, que certamente nos atenderia no “Rei da Empada”. Tenho medo de olhos verdes quando me observam. São uma dádiva de Pteros, o Eros alado. Produzem uma tensão na alma de quem está sendo objeto da contemplação. Já dizia o filósofo Zé Amorim que olhos verdes são duas bolas de gude que brilham.
Almoço com o Bala sob a luz dos olhos verdes de Marcinha e, após a compra de pequis e carne de sol, nos dirigimos ao seu apê, no Gutierrez, onde passamos a tarde em seu oráculo, que é um misto de estúdio musical, cinema, biblioteca e escritório.
Navegamos no vozeirão de Nat King Cole, ouvimos Caetano Veloso cantar magistralmente “Sotisficated Lady” e “As Time Goes By”, na voz de Natalie Cole, filha do primeiro. Elis e Adoniran Barbosa, Tom Jobim e Chico Buarque foram saboreados em gravações caseiras, descontraídas e quase inéditas. Mergulhamos nas águas do negro mar dos “blues”.
Voltaram-me à lembrança os olhos translúcidos de Márcia “Yellow” e vaguei no estático da solidão das passarelas de tapete asfáltico, na solidez vibrátil do concreto aparente dos edifícios e no vazio do espaço táctico e tenebroso daqueles olhos verdes a me fatalizar. D. Célia entrou no oráculo com uma jarra de suco de uva, que molhou nossas goelas, secas pelas emoções até então vividas.
Debati com o notável Bala Doce a metafísica do “Banquete” de Platão e a psicologia de Wilhelm Reich, tendo como fundo musical “O Haver”, recitado pelo próprio Vinícius de Morais, com Toquinho fazendo o fundo musical. Observamos os poetas e escritores (muitos deles montes-clarenses) que dormitam, enfileirados e simétricos, nas prateleiras da bem cuidada e farta biblioteca.
Relembramos nossa infância feliz em nossa urbe, a Boate da Praça de Esportes, as horas dançantes do Clube Montes Claros e cantamos, com Bala ao violão, bossas-novas que João Gilberto lhe confidenciara, em 1957, quando da inauguração do auditório do Colégio Imaculada Conceição.
Feliz, encerrei o vespertino circuito lítero-musical, contaminado pelos vírus dos olhos verdes das duas Márcias e com a epiderme eriçada, ao final, quando Bala, maliciosamente, pôs Chet Baker para cantar “Someone to Watch Over Me”.

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