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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 21 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Como foi o Carnaval de outrora

Manoel Hygino (Hoje em Dia)


Com berço em família rígida em costumes do norte-mineiro, nunca me afeiçoei aos folguedos momesmos, que são a alegria - às vezes a tragédia - que marcam estes dias do calendário anual. Ademais, minha cidade natal tinha mais tradição das dolentes músicas e as amáveis letras das modinhas, que enterneciam pessoas nas noites quentes do sertão.
O Carnaval, parece-me, não foi o evento mais forte de Montes Claros. As serestas, sim, venceram décadas e encantaram corações, lembrando-se os grupos João Chaves e Minas Gerais, que já percorreram o Brasil exibindo a arte e a vocação seresteira, de que Lola hoje é herdeira maior.
Os seresteiros eram de estirpe. João Chaves formava com Maria de Lourdes Pimenta um dos mais prestigiosos escritórios de advocacia da cidade. Ruy Barbosa chamava de ´meu mestre´, o tio de João Chaves, Dr. Gonçalves Chaves, tio-avô de Lola. O grande advogado foi o responsável pela elaboração de grande parte do Código Civil de Clóvis Bevilacqua.
Mas, por imposição das circunstâncias, redijo estas mal traçadas linhas para falar de Carnaval, em que jamais fui ´expert´. Mas o curvelano Nélson Vianna, que se instalou em Montes Claros para ali viver mais de meio século, não deixou de julgar alegres as festas momesmas locais. Alegres.
Quando lá chegou, os festejos eram muito primitivos, com limões-de-cheiro, baciadas d`água com farinha de trigo sobre os foliões, mas sempre terminando em gargalhada. Nenhum incidente grave.
Por volta de 1932, quando apareceu o lança-perfume, o hábito se tornou epidemia. Travavam-se verdadeiras batalhas campais com esguichos de lança-perfume visando os olhos das pessoas, sem distinção de sexo, mais ainda assim sem conseqüências graves.
O próprio Nélson Vianna, personalidade singular na sociedade, conta um caso especial. O alferes Ovídio de Melo era delegado de Polícia, respeitado e até temido pelo rigor no exercício do cargo. Aconteceu que um grupo carnavalesco, sob influência do álcool, depois de um certo baile, resolveu percorrer em alvoroço, tarde da noite, as ruas centrais.
Esses elementos, munidos de caixotes, vasilhas de cozinha, latas de querosene e tudo mais que pudesse fazer barulho, puseram-se a produzir ruído ensurdecedor pelas ruas, quando as famílias já se tinham abrigado no lar. E os foliões na algazarra!
Avisado, o delegado, furioso, reuniu seus soldados, e partiu para o local onde se concentrara a ruidosa tribo. Ia fazer como sempre fizera, impondo a ordem e a lei. Ocorreu, todavia, o imprevisto. O bravo delegado empolgou-se com o ruidoso grupo e aderiu ao cordão com seus respectivos soldados.
Em outro ano, bancários que mantinham uma república organizaram um bloco, representando um casamento, com todos os atores vestidos a caráter, como o casamento na roça das festas juninas.
Mirabeau, fazendo o papel da noiva, fascinava pelo vestido branco, de tule e chantily, grinalda, enluvada, o longo véu. O noivo, de fraque preto, calças bem vincadas e de listas negras, um modelo de distinção. As testemunhas os seguiam respeitosamente à distância, graves, traje a rigor, naquele domingo gordo.
O sucesso se repetiu na terça-feira. O grupo voltou à cena. A ex-noiva carregava nos braços, embevecida, um bebê, que fitava com grande ternura. Ao invés de testemunhas... os padrinhos do batizado.

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