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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 21 de setembro de 2024
 

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Mensagem: ADEUS RENDEIRA! Morre Mané rendeira, ou Mané rendeiro como preferiam alguns. Morreu meu pai, morreu o inventor de comida de buteco. Arte que ele aprendeu como tropeiro e cozinheiro da tropa. Tenho comigo esta teoria de que ele, batizado de “rendeira” pelo Capitão ( o Enéas mesmo), ainda nos tempos de Burarama e segundo alguns o seu predileto foi o grande inventor de comida de buteco. Começou em Montes Claros, com um buteco nos fundos do antigo Mercado Municipal na Praça Dr Carlos, no início da década de 60. A minha memória não passa de reminiscências daquele tempo, eu ainda muito menina, porém atenta e fascinada com tudo que o meu pai fazia. Lembro-me bem de que não havia supermercados, apenas armazéns, nem barzinhos, apenas butecos, nem self-services, apenas restaurantes com serviço a la carte e nem mesmo o popular “PF”, talvez na antiga rodoviária. Em sendo assim, a boa pinga ou a cerveja gelada tinha seu gosto disfarçado com caras comidas de restaurantes, acessíveis a bem poucos ou com o velho e bom torresmo, Maria Rosa ou salame nos butecos populares. “Seu Pedro”, seu vizinho de comércio e grande amigo já fazia enorme sucesso com a sua carne de sol do outro lado do mercado, em respeito a quem meu pai nunca ousou fazer tira gosto de carne de sol. Ele era acima de tudo ético e digno. Então ele criou, por uma questão de economia o seu não menos famoso bife de fígado acebolado. A criação que o fez famoso em todo o centro da cidade surgiu por uma questão de economia. Naqueles tempos de vaca gorda ninguém comprava fígado de boi, então ele comprava baratinho, dava o toque pessoal do seu misterioso tempero e pronto, ninguém resistia. Quando ele lançava o fígado na frigideira surgiam rostos ansiosos de todo lado da cidade, atraídos pelo cheiro espalhado por todo o quarteirão. Vai além a minha teoria, para mim foi ele quem exportou esta raridade para o mercado central de BH, alguém saberia dizer a quanto tempo servem fígado acebolado por lá? Homem simples, de pouquíssimo estudo, porém extremamente habilidoso com cálculos matemáticos ele compreendeu e nos ensinou que nesse comércio não se sobrevive vendendo bebidas, mas sim comidas. Aí foi criando e recriando famosas receitas: rabada com mandioca, costela com mandioca, farofa de tatu, feijão tropeiro, pirão de frango, pescoço e asas de peru, arroz com pequí, sarapatel, molho de carne moída, enfim, tantas outras que ele inventava até chegar a sua não menos famosa dobradinha com pé de porco e a feijoada dos sábados. Neste tempo já haviam derrubado o Mercado Municipal e ele resistiu como pode, foi o último a ser expulso de lá, lembro bem que às vezes pensávamos que os tratores iam nos arrastar com buteco e tudo. Então se mudou para a rua Cel Joaquim Costa, para onde haviam mudado o Mercado Central. Do meu pai guardo boas, importantes e divertidas lembranças e o seu grande exemplo de criatividade, bom humor, bom caráter, dignidade e sobretudo ética.

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