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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Fuga do Nordestino

Ruth Tupinambá Graça

Tudo parado, parado e morto.
Sol em brasa, bota fogo nas matas
Fura o cipoal retorcido, emanharado,
Penetra no cerrado estorricado
Sapecando árvores finas, tortas e peladas.

Um lept, lept, lept... indeciso, fraco
Quase arrastado,
Quebra o silêncio funéreo...
Alpercatas grossas de couro cru,
Soltam pegadas fundas
No areião fumegante
Daquele chapadão deserto.

Alguém foge e foge sozinho...
De alforge e cabaça nas costas
Arrastando-se, a goela seca
Espectro da fome
Na lonjura das caatingas...

Nada sobrou da terra madrasta
Pro nordestino enjeitado e sem destino.
Da “rocinha” com o suor regada,
Nem um caroço vingou.

Não foi pouco a cadela,
“Bichinha” só faltava falar,
E o papagaio “tão prosa”
Que a fome matou.

Deixa pra trás a vaquinha,
Peito em muxibas,
Canela esticada,
Língua pra fora
Formiga pinicando,
Olhos abertos parados, sem vida.

Abandona o seu rancho
Olhos fitos no céu.
Num delírio febril,
Ele sonha com as chuvas.
Pingos grossos caindo,
A cabeça molhada
Bafo quente,
De terra encharcada.
A fumaça subindo
Da terra rachada.

Carcarás voando baixinho,
Olhos duros fitando pertinho,
Azas negras como leques soprando,
A morte arrepiando-lhe os cabelos.

Alquebrado, sem forças
Suas pernas fraquejam,
Seu corpo rasteja.
É apenas um verme
Sobre a terra sedenta.

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