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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 21 de setembro de 2024
 

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Mensagem: O Livro de Lili A imagem de D. Lili Madureira, que guardo com imenso carinho na memória, está indissoluvelmente ligada à minha iniciação no mundo das letras. Pendurados no quadro-negro lá estão aqueles maravilhosos cartazes coloridos que nos familiarizaram com “Lili” e, onde a professora, com longa vareta na mão, vai nos apontando as linhas impressas. Verdadeiramente alegres, nós as vamos reconhecendo e repetindo em voz alta: olhem para mim... Essa frase, dita por todos os alunos ritmadamente, ressoa ainda em meus ouvidos com a nitidez das melhores lembranças. A alfabetização, aquele período em que me foi desvendado o “milagre” de ler e escrever recordo-o como uma época feliz. Usando o uniforme, saia azul-marinho pregueada, blusa branca, sapato preto e meia branca, era a maior felicidade ir para o Instituto D. Bosco, onde cursava o primeiro ano do curso primário. Tínhamos todos os dias o encontro com o “Livro de Lili”. A lembrança da capa do livro, onde uma menina loura, de tranças e olhos azuis, aparecia ao lado da cachorrinha Suzete, me encantava! Será que hoje essa capa seria politicamente correta? Lembro de várias lições, desde a primeira, onde “Lili” se apresentava: Olhem para mim/ Eu me chamo Lili/ Eu comi muito doce/ Vocês gostam de doce?/ Eu gosto tanto de doce! Depois seguiam o piano de Lili, onde a cachorrinha Suzete ouvia Lili tocar. As meias de Lili eram azuis, mas estavam furadas e ela não sabia coser e se perguntava: como há de ser? Outro personagem era Joãozinho, irmão de Lili. Ele tinha um burrinho chamado Mimoso, pirracento como ele só, e um cachorrinho chamado Totó. As lições iam se desdobrando e nos motivando cada vez mais para aprender a ler. Lili era, para nós meninas, um modelo a ser seguido, imitando seu penteado, suas roupas, seus brinquedos. Ah! Tempos tão distantes e diferentes! O “Livro de Lili” foi escrito pela educadora mineira Anita Fonseca que faleceu com mais de noventa anos, quase ao final do século XX. Fez parte dos educadores influenciados pela “Escola Nova” e este livro foi baseado no “Método Global”. Esse método revolucionou a alfabetização. Partia do todo para as partes. Depois do texto, dividia as frases em palavras e sílabas. Deixando de lado essas considerações pedagógicas, só sei que o livro de Lili para mim foi o divisor de águas: aprendi a ler e escrever, a maior conquista do ser humano. Acreditava piamente que Lili existia e morava em algum lugar. Como eu queria ser Lili! Loura de olhos azuis, bonita, inteligente, sabia tocar piano; tinha uma cachorrinha linda – Suzete – branquinha de pêlos encaracolados, parecendo algodão. Achava também que Lili era rica; tinha um piano, fazia doce de abacaxi em um fogão de ferro, tão diferente do nosso fogão a lenha, que soltava aquela fumaça preta que escurecia as paredes. O quarto de Lili era tão bonito! A cama coberta com um cobre-leito florido, onde ela colocava suas treis bonecas para dormir: Lalá, Bebê e Clarinha. Na janela uma linda cortina, enfeitada com babados, tornava seu quarto como o de uma princezinha. Imaginava Lili tão feliz! Procurava imitá-la em tudo. No cartaz “A Cozinheira”, Lili fazia doce de abacaxi. Fui ao mercado, comprei um abacaxi. Com a ajuda de nossa cozinheira, descasquei e cortei-o em pedaços e misturei o açúcar. Para alcançar a altura do fogão, subi num caixote e sempre vigiada fiz o meu doce de abacaxi. A fantasia infantil me fez sentir a própria Lili. Até hoje ao fazer qualquer receita que leva abacaxi, a figura de Lili fazendo o doce de abacaxi aflora como uma doce lembrança. Dizem que na alma o tempo não passa e existe um descompasso entre a idade cronológica e a idade da alma. Acho que minha alma não envelheceu, sou ainda menina. “Talvez meus olhos mudaram, mudaram por causa da saudade”. Saudade que me levou ao encontro do “Livro de Lili” e ao reencontro comigo mesma quando atravesso o Túnel do Tempo. Carmen Netto Victória

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