Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 21 de setembro de 2024
 

Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.

Clique aqui para exibir os comentários


 

Os dados aqui preenchidos serão exibidos.
Todos os campos são obrigatórios

Mensagem: ESTREPTOMICINA P.O. E BONECAS PARA O ALÉM. 1953. Um surto de coqueluche deixou-me, juntamente com duas irmãs menores, prostrados à cama. Tosse seca e um chiado de dar dó na caixa torácica. Morávamos na rua Tiradentes, no centro, ao lado da residência de dona Carmelita Martins, agente de saúde do município. Captamos pelas antenas espiraladas do rádio Galeno e na voz de Héron Domingues, o Repórter Esso, que um surto de gripe asiática chegara ao Brasil. O vírus da epidemia viera do Velho Mundo inoculado em passageiros e marinheiros aportados no porto de Santos, que, sem o saber, portaram o vírus, transportando até o Brasil. A cidade de Montes Claros foi convocada e toda a população se dirigiu à casa de dona Carmelita local da vacinação em massa pra evitar a terrível gripe, que matava. Dos States vieram acondicionadas em containeres de flandres com gelo seco, a Estreptomicina, medicamento preventivo desenvolvido no fim da Segunda Grande Guerra. Quando o avião da Panair sobrevoou a nossa urbe, foi a maior festa! Na hora de ser inoculada, muitos desmaiavam, mais por medo, dado aos boatos que diziam que aquele medicamento provocava choque anafilático. Apelidaram-na mesmo, de Injeção de Cavalo. Alguns locais foram contidos pelas famílias e só tomaram a vacina a poder de polícia. Capitão Coelho, Zé Idálio, Altinim e quatro soldados da polícia militar formavam todo o efetivo da delegacia local. Foi um corre-corre. Trabalharam duro para manter a ordem na fila e acalmar as pessoas. Para curar a nossa coqueluche, a minha bisavó Dinha já aos noventa anos de idade nos levava todos os dias de madrugada até o alto do Morrinhos. Era a terapia de ar puro que a todo mal sarava! Subíamos pela Melo Viana e descíamos pela encosta lateral direita do morrote, não sem antes pararmos no barracão de dona Alzira para tomarmos diária e religiosamente um café forte adoçado com rapadura feito no fogão de pedra e brasas à porta da casa. O beiju e os biscoitos para comermos, minha Dinha já os levava em um embornal, completando assim o desjejum de todos nós e os da casa. Descíamos o morro, com a barriga forrada! A moradora sustentava os filhos deficientes com a venda de bonecas de pano. Feitas de trapo que eram compradas pela minha Dinha como encomenda de seus conterrâneos de Guananbí e do Morro do Chapéu, na Bahia. Já grande e com idade é que fiquei sabendo que aquelas pequenas bonecas de pano não faziam à alegria de meninas e sim eram entregues a quem as encomendou para serem usadas em rituais de magia oriundas dos rituais de Kimbanda africana. As lolitas de trapo, portanto, destinavam-se aos mistérios do além! Cruz credo! Signo São Salomão Bim Bim três vezes! Xô mandinga! Nós somos da roça, mas temos história!

Preencha os campos abaixo
Seu nome:
E-mail:
Cidade/UF: /
Comentário:

Trocar letras
Digite as letras que aparecem na imagem acima