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Mensagem: “Que braseiro, que fornalha...”Waldyr Senna BatistaFernando Henrique Cardoso dizia que, ao contrário do que quase todo o mundo imagina, o presidente da República manda quase nada. A estrutura do governo é tão gigantesca que as determinações do gabinete presidencial demoram a chegar ao destino, e geralmente se perdem no labirinto da burocracia.O presidente Lula da Silva ainda não chegou a essa conclusão, mas adotou estilo equivalente: como tem aversão pela administração, descentralizou tudo. No primeiro mandato, designou o então ministro José Dirceu, da Casa Civil, como o “capitão do time”, e deu no que deu; e agora as ações do governo estão concentradas nas mãos da ministra Dilma Roussef, substituta de Dirceu, apelidada de “a dama de ferro” (referência a Margareth Tatcher, a legendária primeira-ministra da Inglaterra). Trata-se, de maneira peculiar de administrar, sobrando ao presidente mais tempo para suas vilegiaturas pelo país e pelo exterior, distribuindo simpatia e falando sobre tudo e sobre coisa alguma, em improvisos inesquecíveis. Quando estouram os escândalos ( agora é o dos cartões eletrônicos), invariavelmente ele afirma que de nada sabia (e nisso não está mentindo, não sabia mesmo).José Alencar, o vice-presidente, ao seu jeito bonachão - esse é verdadeiro - , repete que vice não manda, nem mesmo quando assume interinamente. Se mandasse alguma coisa, acrescenta, seu primeiro ato seria reduzir a taxa básica de juros ( seu samba de uma nota só), a mais elevada do mundo e que o vice-presidente considera uma vergonha. E é.Mas é a José Alencar que os políticos e os dirigentes classistas do Norte de Minas recorrem quando as coisas desandam. Ele não manda nada, mas, acionado, jamais se negou a atuar como uma espécie de ponte até ao presidente da República. Suas ligações históricas com a região fazem com que ele se desdobre para atender as delegações que o procuram e faz aquela festa: telefona, leva o pessoal ao gabinete presidencial, o presidente dispara telefonemas dando ordens terminantes, e todos saem batendo palmas.Feito isso, os caciques retornam à aldeia, expedem releases que os veículos de comunicação divulgam com destaque, e ficam todos à espera de que as coisas aconteçam. Essa é a parte política do filme, e o exemplo mais recente é a longa estiagem que tem castigado o Norte de Minas. Chovem promessas, mas verba mesmo, que é bom, nada. Em vez de melhorar, as perspectivas agravam-se e a insensível burocracia a que aludia o presidente FHC nem se abala. Aí o pessoal se reúne, volta ao gabinete do simpático José Alencar, que de novo empunha o telefone, fala com o presidente, que dispara ordens terminantes estranhando que nada do que mandou foi feito, exigindo resultados. Para variar, Lula não sabia que nada foi feito.Mas a seca que aí está é do conhecimento de todos, que a sentem na pele, devendo transformar-se em catástrofe a partir de julho. Os rebanhos bovinos estão depauperados, as pastagens não se recuperaram, a água é pouca e as dívidas bancárias são muitas e se multiplicam. O presidente prometeu prorrogá-las, mandou que o ministro da Fazenda convencesse o Conselho monetário nacional ( CMN ) a aprovar essa prorrogação, mas, como se sabe, o presidente da República não manda tanto quanto imagina que manda. O jeito é esperar.Quanto ao governo do Estado, o governador Aécio Neves limitou-se às medidas anunciadas pelos jornais e emissoras de rádio e televisão em farta campanha publicitária e que não produziram efeitos práticos, enquanto setores do governo ameaçam reunir-se para avaliar a situação e propor medidas que visam a criar condições para o convívio com a seca, porque ninguém tem o poder de fazer chover - isso é verdade. A próxima reunião, adiada algumas vezes, está marcada agora para o dia 29 próximo. Novos releases virão.Enquanto isso, vale recordar o outro Lula, o Gonzagão, rei do baião, cuja música de protesto fala da seca como braseiro e fornalha, nem um pé de plantação. Que saudade !
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