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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: O voto do “chapéu de couro”
Waldyr Senna Batista

O clientelismo, apontado pelo prefeito Athos Avelino como praticado em administrações anteriores, é doença crônica que acomete todos os políticos. Não escapa nem o próprio prefeito, que ocupava cargos e integrava grupo no período em que essa prática mais se acentuou na política local.
E a tendência agora é de agravamento da enfermidade, por inspiração do presidente Lula da Silva, que dá ênfase às suas chamadas “políticas sociais”, com que pretende promover a inclusão social. As diversas “bolsas” que ele instituiu ou ampliou funcionaram a contento, possibilitando-lhe a reeleição, embora apresentem a face maligna do desestímulo ao trabalho. Desigualdade social corrige-se com atividade produtiva e não apenas com esmola, que vicia ao ponto de pessoas em fase produtiva estarem recusando trabalho com carteira assinada a fim de não perderem o benefício.
O clientelismo, que sempre grassou no país, em Montes Claros, no passado mais remoto, era praticado pelos padres da igreja católica, substituídos depois pelos médicos, que até hoje exercem influência, apesar da evolução social e do advento do SUS, que universalizou a assistência médica gratuita. Mesmo assim, o fascínio pelo “médico caridoso”, que não cobrava honorários, foi preservado e é retratado pelos votos nas urnas.
Mesmo depois da “era Vargas” a política feita nos consultórios produziu resultados. Haja vista que, em Montes Claros, desde a redemocratização de 1946, em todas as campanhas eleitorais houve a participação de um ou mais médicos como candidatos a prefeito ou a vice. E vários deles se elegeram. Entre os prováveis candidatos à eleição deste ano, a regra se confirmará: o atual prefeito, apesar de nunca ter exercido a medicina popular, disputará a reeleição.
Outro fato que marcou um dos últimos pleitos municipais do século passado na cidade, foi a eleição de sete médicos, para a Câmara municipal de 21 membros. O fenômeno foi explicado, à época, como sendo resultante de laqueaduras de trompas realizadas aos milhares, mediante o empenho de candidatos médicos com a ajuda de colegas seus que não se candidataram. Na Câmara atual, são três os médicos vereadores, num grupo de quinze, mas, pelo que se sabe, a nenhum deles se atribuem laqueaduras para conquista de votos.
O clientelismo político tem inúmeras faces e formas, mudando conforme a evolução dos costumes e das técnicas de aliciamento. Nas duas últimas décadas do século passado, ele foi praticado em escala industrial, com ampla distribuição, pela prefeitura, de lotes para a construção de barracos nas periferias. O resultado disso foi a explosão demográfica ocorrida na cidade naquele período, tendo como componentes mais perversos a proliferação de favelas e o agravamento da criminalidade que aí estão.
Foi-se o tempo em que o clientelismo eleitoral se limitava à prosaica distribuição de comida e roupas ao eleitorado da zona rural, que acorria em massa às casas dos chefes políticos, em épocas de eleições. Era a conquista do chamado voto de “chapéu de couro”, que decidiu várias disputas em Montes Claros, geralmente a favor do velho PSD, de Deba e Neco Santamaria. No folclore ficou o registro de que aos homens eram dadas também botinas, sendo um pé antes da eleição e o outro somente após a comprovação do voto nas urnas...
Entre verdades e lendas, o certo é que o clientelismo político é enfermidade contra a qual ainda não se inventou vacina eficaz. Nem a rigorosa legislação em vigor, alcança plenamente os resultados pretendidos. Os candidatos sempre descobrem um jeito de burlar a lei. Ninguém, entre os que estão na militância, pode posar de santo e jurar inocência, ou simplesmente tentar atirar o vírus na direção dos adversários de hoje que foram correligionários ontem. No mínimo, terá havido conivência.

(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).

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