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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: As águas de março

Waldyr Senna Batista

As águas de março caíram generosas durante uma semana e mudaram por completo o astral da região Norte de Minas. Em vez da catástrofe anunciada, pode-se agora divisar tempos de relativa tranqüilidade. A começar pelo encurtamento da estiagem deste ano, que pode durar sete meses em vez dos nove do ano passado. Só aí residirá excelente ganho.
O otimismo voltou a prevalecer com a renovação das pastagens, o que garante a sobrevivência dos rebanhos bovinos, e a recomposição dos mananciais, naturais e artificiais. Cessou a grande movimentação que se processava para a retirada do gado para outras regiões ou para o abate antecipado. E o comércio de aluguel de pastos, que era a solução preventiva mais imediata, retorna a valores aceitáveis, depois de alcançar R$ 25,00 e R$ 30,00 por rês/mês. Uma exploração, ditada pela demanda desesperada e oferta quase nenhuma.
Já na agricultura, que é atividade pouco expressiva na região, as perdas foram totais. Muita gente aventurou-se realizando dois ou três plantios fracassados. As chuvas retardadas não permitiram novas tentativas, porque, dentro de mais alguns dias, estará começando outra fase de estiagem. Os prejuízos nesse segmento são irrecuperáveis. E de tudo, fica a certeza de que não se pode contar com os governos nesses momentos de desespero. Desde novembro do ano passado, as lideranças classistas vêm realizando romarias a Brasília e Belo Horizonte, levando queixas e trazendo promessas irrealizadas. Foram empurradas com a barriga.
A grande ilusão era de que o socorro viesse do governo federal, e a decepção foi grande. Nenhuma medida concreta foi adotada, com as ordens emanadas do gabinete presidencial esbarrando na velha e poderosa burocracia, onde predomina total desinteresse para adoção de providências elementares em momentos de desespero como os que se registraram. Reuniões pouco convincentes em gabinetes, telefonemas ineficazes e comunicados inconsistentes, compuseram o jogo de cena. Fala-se que está sendo autorizada agora a renegociação de dívidas.
Nesse cenário dramático, o governo do Estado compareceu com grande atraso e sem conseguir disfarçar que não se dispunha a dar aos representantes da região o respaldo do seu prestígio junto ao governo federal. Limitou-se ao anúncio de medidas de efeito duvidoso, mais para efeito publicitário e visando estiagens futuras, como a promessa de instalação de caixas d’água e construção de barragens, em que ninguém põe fé. Além disso, anunciou a instalação de um órgão cuja missão são o estudo do fenômeno das estiagens e sugestões que possibilitem a convivência com a seca. Faz lembrar o ministério recentemente criado em Brasília para “filosofar” sobre assuntos de alta indagação que ainda não se sabe quais são. O grupo estadual, pelo menos teoricamente, tem objetivo determinado, que é a convivência com a seca, mas de duvidoso sentido prático, pelo menos a curto e médio prazos. É questão de se esperar o resultado desses prometidos estudos.
Essas movimentações serviram para que políticos e dirigentes classistas exibissem disposição e posassem para fotos. O clímax foi a realização, em Montes Claros, de reunião em que representante do governador veio anunciar praticamente as mesmas decisões divulgadas três meses antes em ruidosa campanha publicitária, que ,aliás, está sendo reprisada com novos comunicados oficiais de elevado custo. Uma pauta requentada.
Realizada a reunião e feitas as fotos convenientes para apreciação do grande público, a maioria dos participantes não escondia o desapontamento diante da quase nenhuma utilidade da visita do secretário. A chuva salvadora já estava começando quando foi desfeito o aparato montado no auditório da Unimontes. E a sem-graceza era tamanha que, em meio aos abraços protocolares, todos pareciam se indagar: o que é mesmo que eu vim fazer aqui ?

(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).

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