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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 21 de setembro de 2024
 

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Mensagem: O PRIMEIRO GENERAL

HAROLDO LÍVIO*


Faleceu, dia 20 passado, no Rio de Janeiro, aos oitenta e dois anos de idade, o primeiro filho de Montes Claros que alcançou o posto de oficial-general nas Forças Armadas. Em aviso fúnebre publicado no Jornal do Brasil, no dia seguinte (feriado de Tiradentes), a família do extinto general João Punaro Bley convidou parentes e amigos do velho soldado para o seu sepultamento no Cemitério São João Batista.
Poucos montes-clarenses sabem quem era o falecido, isto porque, tendo aqui nascido, deixou esta cidade ainda criancinha de peito e nunca mais retornou à sua terra de origem, que morreu sem conhecer. Sua biografia, contudo, ficou registrada nos anais da nossa história. O competente Nelson Vianna, em sua obra Efemérides Montes-clarenses, edição de 1964, anota evento ocorrido no dia 14 de novembro de 1900:
“Nasce, em Montes Claros, o general João Punaro Bley, filho do engenheiro João Bley Filho e D.Maria Punaro Bley. Fez o curso primário no grupo escolar de Teófilo Otoni, o secundário no Colégio Militar de Barbacena e o superior, na Escola Militar de Realengo. Tem desempenhado as seguintes funções: interventor e governador do Estado do Espírito Santo; comandante do Regimento Escola de Artilharia; chefe da 5º Seção do Estado Maior do Exército; Subchefe do Gabinete do Ministro da Guerra; comandante da Academia Militar das Agulhas Negras, por duas vezes. Dirigiu a Cia. Vale do Rio Doce, na sua primeira fase, e foi comandante da ID-4, de Belo Horizonte.”
Na hora em que morre nosso primeiro general, acrescento uma achega ao resumo biográfico ora reproduzido ipsis litteris e também à notícia dada pelo historiador Hermes de Paula, em sua monografia. No tempo em que comandava Academia Militar das Agulhas Negras, o general Punaro Bley, compulsando papéis relativos ao corpo discente,encontrou o nome de um seu conterrâneo, entre os alunos da AMAN, e mandou chamá-lo ao seu gabinete.
O cadete Jefferson Esteves Xavier (hoje chefe do gabinete do Presidente da Telebrás), convocado à presença do seu comandante, chegou ao gabinete sem saber do que se tratava e a que vinha. Para surpresa sua, foi recebido festivamente pelo general, que se mostrou contente em estar, pela primeira vez em sua vida, falando com um conterrâneo de Montes Claros. Discorreu sobre a rápida passagem de sua família por esta cidade que lhe serviu de berço. O pai, engenheiro, dirigia a construção de uma linha telegráfica. Era o pouco que sabia de seu lugar de nascimento.
Muito interessado em saber coisas de seu torrão natal, crivou o cadete com uma porção de perguntas sobre a cidade e o povo seu irmão, num açodamento de filho ausente que ainda não pôde conhecer a terra que o viu nascer. Disse pretender conhecê-la e, ao que tudo indica, nunca esteve por aqui, a não ser que tenha feio incógnito o seu passeio sentimental, para poupar-se de imensa emoção.
Na ocasião em que comandava a ID-4, em BH, o general Punaro Bley teve a má sorte de ver-se envolvido em desagradável incidente. Durante operação de intervenção militar, na redação do semanário O Binômio, numa quadra tumultuosa de tensão política, em 1963, o general, em atrito pessoal com o diretor do jornal, teria sido atingido na face com um bofetão dado pelo jornalista e que o apanhou descuidado, segundo o noticiário divulgado pela imprensa. O jornalista, exilado após 64 e, muitos anos mais tarde, anistiado, é o senhor José Maria Rabello, atual assessor do governador Leonel Brizola.
Essa ficou sabendo a nota melancólica na brilhante carreira de militar e administrador público que cumpriu o nosso primeiro general.
Se nossa juventude, até aqui, tem mostrado escassa vocação para a carreira das armas, ainda há, todavia, no efetivo das Forças Armadas, mais três oficiais-generais montes-clarenses, com o dado curioso de pertencerem todos ao serviço médico. No Exército, está o General de Divisão João Caldeira Veloso, com três estrelas; na Marinha, o Almirante Hélio Vecchio Maurício; e na Aeronáutica, o Brigadeiro Robson Veloso.
E se o general João Caldeira Veloso não fosse médico e sim oficial combatente, poderíamos alimentar a ilusão de ter um conterrâneo presidenciável, visto estar aguardando a quarta estrela. Não consegui saber se há outro montes-clarense prestes a chegar ao generalato.
Só sei que o ex-vereador (suplente convocado) José Mário de Araújo, muito orgulhoso de sua prole exemplar, está anunciando aos quatro ventos, para futuro próximo, mais um general montes-clarense, que desta vez será um de seus filhos, um jovem capitão de Infantaria que vem cumprindo rápida e promissora carreira.
Quem viver verá o ato de promoção, no Diário Oficial, garante o papai coruja... (O Jornal de Montes Claros, 2 de maio de 1983).

PS: Vinte e cinco anos depois, a lista de generais aumentou de quatro para seis. O quinto é o almirante Délcio Machado de Lima, atual diretor de Saúde da Marinha, sobrinho do inesquecível Lazinho Pimenta; e o sexto é o general Mário de Araújo, recém-promovido conforme a profecia paterna ora realizada.

*Do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

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