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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 21 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Para convivência com a seca

Waldyr Senna Batista

Pode parecer despropositado falar em seca no momento em que as chuvas fazem a festa no Norte de Minas, havendo até quem sonhe com a continuidade delas em abril. Mas a verdade é que os efeitos daninhos da estiagem do ano passado persistem, em grande parte, não se justificando, portanto, que se tire esse tema da pauta. É preciso falar sempre em propostas que tratem de empreendimentos capazes de possibilitar a convivência com a seca, partindo da evidência de que novos períodos de estiagem ocorrerão.
Uma dessas propostas, que nem chegou a ser divulgada nas sucessivas reuniões pouco produtivas que se realizaram em Montes Claros e em outras cidades norte-mineiras, está contida em trabalho elaborado por técnicos da Superintendência local do Banco do Nordeste e que seria subscrita por diversas entidades classistas para entrega aos representantes de órgãos governamentais que aqui estiveram.
Embora provavelmente não tenha passado de mero esboço, a proposta poderá vir a ser utilizada como roteiro a fim de não deixar que o tema da seca caia no esquecimento, como de outras vezes. Denominado de “Pleito de ação governamental para implantação de infra-estrutura hídrica no Norte de Minas”, o documento foi dividido em propostas de curto, médio e longo prazos, que aqui se tentará resumir.
A curto prazo, ele prevê: renegociação de dívidas junto aos bancos do Brasil e do Nordeste; interação das instituições regionais, federais e estaduais com vistas às medidas emergenciais anunciadas pelo governo do Estado; e estender ao Norte de Minas o status de “mesarregião diferenciada” para usufruir das vantagens previstas na PNDR ( política nacional de desenvolvimento regional) constantes do decreto federal nº 6.047, de 22-02-07, que, em Minas Gerais, abrange apenas os vales do Jequitinhonha e Mucuri, além da região da Serra geral ( Janaúba e municípios vizinhos).
A médio e longo prazos o trabalho sugere a elaboração de projetos pelos governos federal e estadual para revitalização da bacia do rio Verde Grande, com a construção de 23 barragens de médio porte, 51 de pequeno porte, 200 subterrâneas, além de cisternas, barraginhas e diques. Propõe também a destinação de recursos para as propriedades rurais, com a finalidade de viabilizar programas para financiamentos individuais, curvas de nível em todas as propriedades, reflorestamento no topo dos morros, nas margens de nascentes, cursos d’água e áreas erodidas, perfuração de poços tubulares, captação e armazenamento de águas pluviais para uso doméstico ( cisternas ), além de reservatórios, bebedouros, redes hidráulicas e sistemas de bombeamento.
No último item, o documento sugere o desenvolvimento de tecnologias para convívio com o semi-árido, na forma de pesquisas para a introdução de gramíneas e leguminosas resistentes às secas; buscar alternativas para as atividades de sequeiro, em projeto de pesquisa sob coordenação da Epamig e da Embrapa, prevendo a importação de gramíneas resistentes às secas e adaptadas a solos de média e baixa fertilidade; leguminosas resistentes às secas, com potencial para o semi-árido mineiro; e manejo do sorgo, com outras forrageiras, para implantação da integração agricultura-pecuária na região.
A aridez do texto, que contraria o estilo habitual da coluna, certamente desencorajou a maioria dos leitores. Mas, para os que conseguiram chegar até aqui, deve ter ficado evidente que a decantada convivência com a estiagem é possível, desde que haja empenho dos órgãos governamentais e interesse verdadeiro dos políticos que militam na região e que só se lembram da seca enquanto ela está instalada, e assim mesmo limitando-se a atuação meramente eleitoreira. Em ano de eleições, como este, todos eles já se acham envolvidos nas campanhas municipais, pouco se importando com os prejuízos da última estiagem. Voto é o que lhes interessa agora.

(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).

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