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Mensagem: Política de porta de delegaciaWaldyr Senna BatistaEm Montes Claros há quem exalte em demasia o fato de a cidade ter figurado em quinto lugar no “ranking” das maiores cidades do Estado. Essa classificação refere-se tão somente ao número de habitantes, pelo que não deve ser festejada porque dela decorrem mais problemas do que soluções. Trata-se de “inchamento”, que a cidade não tem como suportar, pois esse processo tem gerado o favelamento, a violência, as drogas, entre outras mazelas. E, ultimamente, tendo caído para a sexta posição, os adversários do prefeito Athos Avelino não perdem oportunidade de, injustamente, atribuir essa queda à incompetência da atual administração.Mas, se está entre as maiores, a cidade às vezes é acometida de procedimentos de cidade pequena, provinciana. Como, por exemplo, a escolha de novo delegado regional da Polícia civil, em substituição ao delegado Aluizio Mesquita. Saiu em jornal da cidade, há dias, crítica à denominada bancada do Norte de Minas, composta pelos oito deputados estaduais eleitos pela região, que teriam indicado outra pessoa que não a que será designada. Segundo a nota, eles foram derrotados. Se, de fato, houve essa movimentação, foi bom que não tenham sido atendidos, pois estavam fazendo Montes Claros regredir aos primórdios do século passado, quando a grande demonstração de prestígio político era a indicação de delegados de polícia. A prática só deixou de prevalecer com o advento dos delegados de carreira ( bacharéis em Direito, concursados ) por volta dos anos 1970. Antes disso, o titular ( era um só delegado) da delegacia regional tinha de passar pelo crivo dos líderes do velho PSD e, se aprovado, acabava exercendo a função de forma a não contrariar os caprichos de seus padrinhos, sob pena de ser demitido sumariamente. Essa constituía demonstração de força tão importante que, quando Magalhães Pinto, da UDN, elegeu-se governador, desbancando o PSD, uma das primeiras decisões adotadas pelo diretório udenista local foi reivindicar a primazia de nomear o delegado. A escolha recaiu no capitão Valdir Nazareth que, tão logo chegou à cidade, foi visitado no Hotel São José pelos próceres udenistas, incorporados, que lhe foram assegurar total apoio, deixando mais ou menos entendido serem eles os donos do pedaço( expressão que surgiria muito tempo depois e que, por sinal, já está superada).Com garantia tão incisiva, o policial entrou logo em ação, cuidando de implantar novo sistema para o trânsito. Inverteu a mão de direção em diversas ruas, mandou afixar placas indicativas em outras, ampliou o quadro de agentes, entre outras medidas, sem se preocupar em reforçar sua retaguarda. Até que uma das mudanças implantadas levou-o a se atritar com antigo comerciante, estabelecido na praça Cel. Ribeiro, tradicional adepto do PSD. O cidadão, julgando-se ofendido pelo delegado, seguiu a antiga cartilha, indo buscar guarida junto aos tradicionais chefes pessedistas, que se puseram em ação e conseguiram a remoção do delegado que mal havia chegado. Foi assim que os udenistas, neófitos nas manhas e artimanhas da política clientelista, tomaram ciência de que o velho PSD, embora derrotado nas urnas, não morrera. Seus dirigentes, com PhD na matéria, deram o recado, desagravando o correligionário à moda de sempre. Como conseguiram essa façanha, estando na oposição, não se soube jamais.Depois disso vieram os delegados concursados, multiplicaram-se as delegacias, e há muito não se tinha notícia da retomada da antiga promiscuidade. Nos últimos anos até se dizia que um deputado é quem segurava no posto o delegado regional Francisco Monteiro, que sofria forte resistência interna, mas o rumor não era levado a sério e merece ser reavaliado agora diante dos novos fatos.Isso não é coisa de cidade grande, principalmente em cidade que se esforça para mostrar que essa classificação tem o significado de cidade progressista, culturalmente evoluída, onde o preenchimento de cargos públicos deve ser de competência das corporações a que pertencem os servidores. A política de porta de delegacia já devia estar abolida.(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).
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