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Mensagem: O montesclaros.com passa a reproduzir, a partir de agora, por capítulos, o último livro do escritor, compositor, poeta e industrial Luiz de Paula - ( a foto é do autor aos 15 anos). Às vésperas de completar 91 anos, extremamente alerta, forte e lúcido, Luiz de Paula acaba de produzir (depois de outros dois) o livro de memórias ´´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´. Belo título ´de uma edição artesanal de 10 volumes´, relato dedicado ´principalmente´ aos filhos e descendentes, na ´esperança de que lhes possa ser útil como memória de usos e costumes de um tempo que fez história´. Como o ensinamento em muito transcende o círculo limitado para o qual foi nascido, este jornal eletrônico pediu e recebeu autorização para publicar um tesouro de cerca de 400 páginas. Comecemos agora:POR CIMA DOS TELHADOS, POR BAIXO DOS ARVOREDOSAPRESENTAÇÃOVivendo a vida é que se aprende a viver. (De uma canção popular). Este relato é dedicado principalmente a meus filhos e a seus descendentes. Ao fazê-lo me anima a esperança de que lhes possa ser útil como memória de usos e costumes de um tempo que fez história. E num ponto ou noutro possa servir-lhes de lições de vida. Ao retornar ao passado pelas trilhas da lembrança a alma se faz criança revendo um mundo encantado. Cada novo passo dado a um outro passo convida e nessa marcha invertida eu vou encontrando a esmo os pedaços de mim mesmo deixados ao longo da vida. Era uma vez ... Tal qual acontecia nas histórias antigas, deixei a casa paterna aos 18 anos, para fazer meu lugar na vida. Com muitas bênçãos. E pouco (nenhum) dinheiro. No pequeno povoado onde nasci, vivi a infância e parte da adolescência, era estreita a convivência entre as pessoas e com a natureza. Todos se conheciam. Tudo e todos, vistos agora, na distância do tempo, ganham renovado encanto. No interior os costumes dos ancestrais permanecem por mais tempo. Comparando-se a vida daqueles tempos com a de agora, verifica-se o quanto o mundo mudou no curso do século XX. Dessas mudanças e dos acontecimentos de minha vida - de meus erros e acertos - acredito que os filhos poderão retirar algumas lições. O mundo daquele tempo era muito diferente do mundo de hoje. O pensador americano, Alvin Tofffer, em famoso ´best-seller´, fala das três ondas que marcaram o desenvolvimento do mundo. A primeira onda nasceu com a civilização, há cerca de 7.000 anos e durou até o século XVIII, alimentada pela agricultura e o extrativismo. A partir de 1.750 veio a segunda onda, sob o impacto da revolução industrial, iniciada na Inglaterra, que alcançou seu ponto máximo na década iniciada em 1955, quando nos Estados Unidos os trabalhadores de colarinho branco e de serviços gerais excederam em número os trabalhadores de macacão. Foi a década da introdução generalizada do computador, dos aviões comerciais a jato, da pílula anticoncepcional e de muitas outras inovações que mudaram a face do mundo. Foi a chegada da terceira onda. Hoje estamos vivendo a era do conhecimento. Minha infância alcançou costumes que vinham de um passado muito distante. Meu pai deixou a profissão de tropeiro em 1914 e estabeleceu-se no comércio em Várzea da Palma, povoado servido pela Estrada de Ferro Central do Brasil.Em nossa casa o piso da cozinha era de chão batido. O telhado era de telhas caipiras e não possuía forro. Os caibros eram de madeira roliça e as ripas eram de tabocas. O fogão era a lenha e a água, de cisterna. A luz era a querosene ou azeite de mamona. O café adquiria-se em grãos, torrava-se em casa e moía-se em pilão de madeira. Dessas engenhocas que fazem barulho no lar só havia no lugar o gramofone. Um único exemplar, pertencente ao ferreiro Tertuliano Silva. Assim que era posto a funcionar, lá vinha a frase, em voz metálica: ´Casa Edson, Rio de Janeiro´. Minha vida foi marcada mais intensamente por três localidades. Várzea da Palma, o pequeno povoado onde nasci, hoje florescente cidade. Montes Claros, terra de meus pais, para onde mais tarde me transferi em caráter permanente. E Pirapora, também minha terra natal, porque Várzea da Palma pertencia a Pirapora quando nasci. Ao vir para Montes Claros, com 9 anos de idade incompletos, fiz uma viagem de 180 quilômetros na estrada. E de quase um século, nos costumes e na cultura. No correr da vida, conheci pessoas e situações. Vivenciei costumes. Escutei e contei histórias. Mas nunca pensei em escrever um livro. Com o advento dos computadores, ocorreu-me fazer um resumo dessas lembranças e organizar uma pequena coleção para oferecer aos filhos, com o propósito de dar¬-lhes uma visão de como o mundo vem se transformando nestas últimas décadas.Desse trabalho nasceu este relato e um volume de memórias sob o título de Na Venda de Meu Pai. Estou com 90 anos de idade. Considerando o que ouvi de meus antepassados e minha experiência pessoal, soma-se tempo que vem de meados do século XIX até o início do terceiro milênio. Quase 150 anos! Proponho-me a transmitir uma visão singela do que pude registrar do mundo nesse período. Com boas intenções estou fazendo o de que sou capaz. Estarei mostrando o que tenho para mostrar. Estarei jogando a minha carta. Pode não ser um ás de ouros. Mas é a que tenho.
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