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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: DA POESIA À VIOLÊNCIA NOS MORROS DO RIO.
J. PRATES
“Barracão de zinco, sem telhado, lá no morro é bangalô/ lá não existe a infelicidade de arranha-céu, pois, quem mora lá no morro já vive pertinho do céu/ Tem passarada, tem alvorada, amanhecer; sinfonia de pardais anunciando o anoitecer”!
A voz de Dalva de Oliveira nos deliciava cantando a poesia do morro. Era o morro do sambista de caixa de fósforos nas mãos, buscando o rítimo que nascia para o samba que compôs; o morro da musicalidade, levando para o asfalto o canto gostoso, o samba quente que fazia a mulata gingar nas gafieiras, nos braços do “malandro”. Tudo isto acabou. Nem poesia, nem mulata, nem malandro gingando na gafieira. Nem gafieira existe mais. Hoje, quem mora lá no morro, já vive bem perto da dor, do sofrimento, da tristeza.

A sinfonia de pardais, anunciando o anoitecer, desapareceu; vieram as rajadas de metralhadora, os tiros de fuzis modernos de altíssima tecnologia, no confronto policia-bandido ou bandido-bandido, anunciando o anoitecer de muitas vidas, jogadas na escuridão da incerteza. A bala perdida fura o zinco do barracão e aloja no chão de terra batida, ao lado da menina que dorme no sofá. É a violência urbana, mantida pela divisão da sociedade em dois mundos antagônicos, criados pelo egoísmo e o desamor. Por que isto aconteceu? pelo embrutecimento do homem que pensa em si próprio, desconhecendo o direito dos outros? Em parte, sim. O mundo evoluiu; todos os sistemas evoluíram e boa parte da sociedade não acompanhou a evolução e ficou à margem do progresso. Culpa de quem? Em sã consciência, não se pode apontar este ou aquele como culpado exclusivo, porque são vários os fatores, a começar pelo estado de pobreza material e de espírito de numeroso grupo marginalizado pela sociedade. Isto gera o complexo de rejeição que leva o homem marginalizado a sentir-se agredido pela sociedade que evoluiu. O bem estar acintoso de um é considerado agressão pelo outro, aquele que se sente alquebrado. Ai nasce o sentimento de revide, em forma de outro tipo de agressão: a violência que se alia à desonestidade.
Sem condições de concorrer no mercado de trabalho honesto, modificado pela tecnologia, e sentindo-se abandonado por uma sociedade que evoluiu, o homem despreparado, a maioria deles, principalmente os mais jovens, procura o caminho à margem da lei, criando o seu próprio mundo, de onde agride a essa sociedade que considera exigente e que, na sua imaginação, o marginalizou. Desaparece o escrúpulo; os olhos vedados pela sensação de abandono, criada pela marginalização, não enxergam as conseqüências dos atos criminosos que a mente conturbada aceita como “legítima defesa”, justificando os seus atos ilícitos.
A sociedade teve meios naturais de defesa e condições de reverter a situação com plano sociológico que atingisse as camadas marginalizadas. Não os utilizou quando a violência ainda rastejava, permitindo a sua evolução. Sem regras, à margem da lei, os morros passaram a constituir e viver um poder paralelo onde os lideres criminosos assumem o papel de governos, ilusoriamente prestando assistência à comunidade que governam pelo medo; praticam a própria justiça, que diferente da justiça do Estado constituído de direito, julgam, condenam e executam as sentenças que normalmente é a pena capital.
O Estado, que sempre permaneceu inerte a toda situação, tenta hoje combater uma criminalidade crescente, bem armada, com técnica de guerrilha urbana, sempre sem sucesso, pela falta de material humano que necessita de concursos, adestramentos e onera o orçamento público. Diferente do crime que convoca jovens de treze anos em diante, sem qualquer adestramento e sem que onere o orçamento do crime.
NOTA: Teve início as obras do PAC nos morros do Rio de Janeiro. Ao que tudo indica, essas medidas podem eliminar a violência.

(José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal, percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a família. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente adido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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