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Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 5)COMEÇANDO A ENTENDER A VIDAProcuro relembrar os primeiros tempos de minha vida, meus sentimentos e observações, na quadra em que começava a entender as coisas à minha volta. A família era muito importante para mim. O mundo tinha um cheiro muito bom e a vida era boa na forma pela qual se me apresentava. Naturalmente eu não tinha idéia sobre outros tipos de vida e ainda não chegava à minha percepção o que viria a ser pobreza ou riqueza. Gostava de meus pais e de meus irmãos e recebia a vida do jeito que ela me era apresentada. Pelo exemplo e pela convivência materna, amava a Deus, aos santos, anjos e arcanjos. E temia o demônio. No mais tinha a mente e o coração abertos para cada novo dia e para tudo de novo que ia chegando à proporção que aumentava a minha idade e com ela a percepção do que ocorria em volta e de minha própria participação. Aos 5 anos perguntei à Maria Pretinha, uma boa mulher, nossa vizinha, o que vinha a seguir, quando acabava a Terra. Ela respondeu: “é o mar”. Isso deixou minha mente livre para pensar em coisas mais próximas. Ainda não haviam sido inventados o rádio nem a televisão. Todo o tempo estava disponível para o convívio com pessoas e com a natureza. Assim eu pude fazer meu aprendizado a partir da vida simples do povoado. A rua era estrada de terra, por onde passavam boiadas e tropas de burros. A água era de cisternas, a luz de azeite de mamona e querosene. Não havia igreja, nem médico, nem farmácia. A escola, quando afinal foi criada, com o nome de ESCOLA RURAL MIXTA (com x), ensinava só até o segundo ano primário. Dela guardo meu diploma, com carinho e respeito. Tive sempre muita sensibilidade para os cheiros, as cores, as belezas e a musicalidade do mundo. Ai também importou muito o exemplo materno. E, naturalmente, a herança genética que me passou. Cada dia trazia suas surpresas, para o aprendiz da vida. E com as variações do tempo iam acontecendo muitas coisas boas, sempre prometidas e valorizadas pelas observações da mãe: as chuvas, as frutas, as festas de maio, as fogueiras de junho, os embarques de gado no curral de ferro da Central do Brasil, as noites de lua para se brincar de pique, e de soldado, para cantar com as meninas. Para ouvir e contar histórias. As aventuras ampliavam-se com o passar do tempo: fazer “tocadeiras” de arame grosso e tocar arcos (arcos de barril e de ferro, retirados de cubos de carroças e carroções); o banho nos regatos e mais tarde no Rio das Velhas; as pescarias, inicialmente de piabas, e depois de peixes maiores; as caçadas com bodoques e estilingues e mais adiante com espingardinhas de espoletas de papel e canos de cabo de chapéu-de-sol e de bronze. E outras tantas coisas, como fazer e comer batida de ovos com rapadura e farinha de mandioca. Assar milho e batatas doces nas fogueiras do mês de junho. Presenciar a matança de porcos e de gado bovino. Montar em cavalos em pêlo para levá-los aos pastos.Jogava futebol com os meninos de minha idade, com laranjas verdes e bolas de meia. As bolas de borracha estavam chegando ao comércio, mas o dinheiro era muito escasso. À noite brincávamos de soldado e de pique.A RUAQuase toda a povoação estava naquela rua, que se espichava, acompanhando paralelamente o trajeto da linha férrea, em toda a extensão do povoado. Era a rua do comércio e nela residia quase toda a população do lugar. Dela saiam alguns becos, em direção ao rio. A rua não tinha nome. Era a rua. Os becos tinham: Beco de Zé de Melo, Beco de “seu” Tico, Beco de Atanázio, Beco de Biló.Dois becos transpunham os trilhos para o outro lado da ferrovia. Esses não tinham nome.(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)
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