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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: TRIBUTO A REIVALDO CANELA

Menino Pescador, menino dos passarinhos, menino que lê e escreve muito bem há mais de quarenta anos. Um sucesso de leitura das edições de domingo dos nossos jornais. Tenho certeza de que todos os leitores, desde as noites de sábado, já ficam esperando pela bem traçadas linhas do Reivaldo. Sempre falando de coisas da terra, dos peixes de debaixo d`água até às aves de cima dos pés de pau e da beirada dos céus. Reivaldo é doido com tudo que tem vida, do vegetal ao animal, incluindo aí o bicho homem. Este quando ama a natureza, é claro. Recebo com muita alegria os originais do primeiro livro de Reivaldo, com uma linha nas explicações iniciais que me põe muito triste: o autor se diz no ocaso, só porque tem 72 anos, ou seja, nasceu em 1934, logo no em que eu também nasci. Ocaso que nada, ocaso uma figa, que esta hoje é uma idade das mais interessantes, principalmente para nós que adoramos tudo que é sertão e gente sertaneja, como o foi também Cândido Canela, um dos melhores poetas de toda uma vasta região, que até pode ser a do Brasil. Muito importante ler com atenção essa primeira página do livro, pois é aí que o escritor faz confissão e muitas promessas do que vem adiante. Um depoimento de escrivão! Mesmo sendo resumo de um vasto repertório de três mil textos publicados - em grande parte conhecido dos leitores - vale a pena mergulhar nos relatos, nas estórias, nas crônicas, nos tratados de leis naturais, nos poemas, muitos dos quais sonetos de perfeição. Ler Reivaldo Canela é desdobrar fibra por fibra o amor à vida, à simplicidade, aos feitos multifeitos da gente nossa dessas bandas das Minas Gerais. Ler Reivaldo é saber das espertezas telúricas de muitos dos seus saudosas companheiros de aventuras de beira-rio e de mato. Lá estão - entre muitos - Reinilson, seu irmão, Penalva, Dino de Campo Azul, Tunico de Caititu, Afonso lê Zezito Salgado, Joanir Maurício, Zé Figueiredo, Fino, Luiz Procópio, Waldir Macedo. Só gente boa de pá virada. Ler Reivaldo é buscar memórias, lavar a alma, reviver sonoridades de nomes tão gratos ao que viveram mais para o verde dos campos: maritacas, jandaias, priquitinho asas-de-ouro, mama-cadela, tatu canastra, jaratataca, saruê, guará, curimatá, lampreia, corvina, unhas-de-gato, sanhaços, juá-de-boi, surumbim-pintado, piaba-oião. Um universo de palavras-música para que tem mais de cinqüenta, já que os meninos e meninas de hoje são mais das piscinas, dos barzinhos, da televisão, da internet, dos vídeo-games, sem qualquer obrigação de saber dessas nossas bobagens. Em verdade, MENINO PESCADOR, o livro de Reivaldo Canela, é mais do que tudo um suspiro saudoso de velhos tempos de criança, tempos em que meninos ainda banhavam nus em qualquer poço, incluindo mesmo os que tinham, nas margens e nas pedras, honradas senhoras lavando, quarando e enxugando roupas. Em tempo, quero dizer que Montes Claros, em praticamente um século, na opinião de críticos literários, só teve um quarto de dúzia de sonetistas realmente bons: Olyntho Silveira, Benjamim Moura e Reivaldo Canela, este que ainda dá um bom caldo em escritos para jornais e, agora, para um bom livro. Que Deus o conserve!

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