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Mensagem: A visita do ministro da viação, doutor Francisco SáRuth Tupinambá GraçaDesde 1889 os montes-clarenses, confiantes no governo, esperam uma estrada de ferro para nossa terra. Vários estudos foram feitos. O primeiro movimento foi através de uma Sociedade Anônima com sede no Rio de Janeiro, da qual o Concessionário era o tenente coronel Cipriano de Medeiros Lima, barão de Jequitaí e o mais importante fazendeiro daquela região. O capital era de três mil contos de réis que ele passou, com seus direitos à referida Sociedade. Uma estrada de ferro que ligasse Montes Claros a Extrema, no São Francisco. Vários estudos foram iniciados, engenheiros foram contratados, mas não se sabe porque, tudo fracassou. Além desta, outras vias férreas, em 1896, foram projetadas mas tudo promessas do Governo, e a nossa cidade continuou no abandono. Os valentes tropeiros foram, por muito tempo, os grandes heróis do transporte. Entretanto, a E.F.C.B. já vinha se aproximando com o passo de tartaruga. . Mas um dia (há sempre um dia na vida das pessoas e também das cidades), o Ministério da Viação caiu nas mãos de um filho do Norte de Minas - o doutor Francisco Sá. Com o seu patriotismo, ciente dos nossos ideais e nossas necessidades, prometeu trazer a E.F. C.B. a Montes Claros. A inauguração da Estação de Bocaiúva estava marcada para 7/6/1924 com a presença do ministro da Viação, doutor Francisco Sá, que naquela ocasião visitaria Mon¬tes Claros, para resolver definitivamente o problema da E.F.C.B. Foi uma bênção e salvação para nossa terra. Naquela época era presidente da Câmara o coronel Antônio dos Anjos, que foi um grande batalhador para que o grande sonho se transformasse em realidade. Toda a cidade vibrava com a próxima visita do ministro e os preparativos para a recepção começaram desde o início do ano. Tudo foi programado da melhor maneira possível e com o maior entusiasmo, em todos os setores. Deixaram de lado as rixas e até na política, entre partidos, inimigos ferrenhos (Estrepes e Pelados) abrandaram-se os corações passando a trabalhar juntos, para o sucesso da chegada do ministro. Comissões foram organizadas para angariar donati¬vos, todos colaboravam e a Câmara Municipal não poupou os cofres soltando verbas. A cidade se embelezava para receber em seu seio o grande amigo e filho do sertão, melhorando as fachadas das casas, dos prédios, das lojas com novas pinturas; poda¬vam-se as árvores, andaimes improvisados em todos os pontos da cidade, reconstruindo telhados escuros e tortos, remendando paredes, trocando madeiras e telhas quebra¬das, encascalhando ruas sem calçamento. Durante o dia inteiro se ouvia o martelar das enxa¬das, arrancando a grama teimosa agarrada entre as pedras do calçamento a pé-de-moleque das ruas de nossa cidade. Era a tarefa dos meninos de rua, que se sentiam valoriza¬dos. Novos automóveis surgiam movimentando-se pelas ruas, sinal de que visitantes chegavam, dos municípios vizinhos, alugando casas, abarrotando as pensões. As famílias também estavam preocupadas com a aparência e as de maior poder aquisitivo, mandando vir da capital tecidos finos, calçados e bijuterias. As mães encheram-se de esperanças. Estava na hora de colocar as suas donzelas casadouras, pois já sabiam que na comitiva do ministro viriam engenheiros, deputados e até senadores solteiros. As costureiras, felizes com o grande número de encomendas, desenterravam os figurinos, cobertos de poeira, nas prateleiras, tanto tempo sem serventia. As moças, eufóricas, já disputavam os candidatos, pois alguns já eram conhecidos dos pais e com ótimas referências. Lá em casa também tinha moças, minhas irmãs, que eram muito novas ainda, mas meu pai muito sociIa, achou por bem arrumá-las. Queria que fizessem sucesso e, quem sabe? .. pescariam algum doutor ... Ele tinha um amigo em Belo Horizonte, um turco, negociante na famosa Rua dos Caetés, onde se encontra-va de um tudo e por menor preço. Trocaram correspondên¬cia e o papai resolveu ir à Capital. Uniria o útil ao agradável Ficamos aguardando, com ansiedade, a sua chega¬da e nos encantamos quando ele abriu as malas entupi-dinhas de pacotes. Foi tirando para cada um de nós o seu quinhão. Ele era agrimensor e sabia, muito bem, como fazer a divisão, para não haver briga nem disputa. Trouxe tudo preparado, embrulhadinho e com os nomes, inclusive ternos, camisas e sapatos para os rapazinhos, tudo da melhor qualidade. Numa alegria enorme, rasgando os embrulhos, fo¬mos comparar quem tinha levado o melhor quinhão. Ele me adulava muito, mas como era a caçula e ainda não tinha inclinações pelo sexo oposto nem pretensões a conquistas, não estava, portanto, interessadas nas toilletes de festa. Mas ele trouxe para mim um sapatinho de tressê azul marinho, branco e vermelho, que era um doce e causou inveja a muita gente boa. E ele se justificou dizendo que daquele só tinha o meu número (pezinho de Cinderela). Para mamãe (embora não gostasse de festas), ele trouxe uma linda toillete de seda japonesa e sapatos Luís XV e para ele, um terno de casimira azul marinho, um colete, camisa branca e gravata borboleta. Assim como meu pai, todos os chefes de família preparavam-se com esmero para a grande festa. Corno era diferente! Havia tanta alegria, tanta sinceridade e espontaneidade naqueles corações tão puros! O entusiasmo crescia dia-a-dia. Em ambiente amistoso, o assunto era um só e girava em torno da chegada do ministro. As mães, preocupadas com a educação das filhas (para causar boa impressão), pensaram numa aula de boas maneiras e a cidade possuía um elemento espetacular. Era dona Lilia Câmara: farmacêutica, professora da Escola Normal, com finíssima educação e muito traquejo social poderia socorrê-las. Urna comissão de mães foi à sua casa; ela aceitou e preparou-as com grande entusiasmo, afinal de contas, era uma importante cooperação. Em poucos dias as nossas sertanejas ficaram afia¬das, treinando a postura, a voz, sorrisos e gestos discretos e delicados, abanar os leques com elegância, olhares lânguidos, maneira de andar e se vestir, tornando-se bem femini¬nas, charmosas e educadas para impressionar os visitantes. Pararam-se todas as atividades e de todos os municí¬pios vieram representantes. O professor Polidora dos Reis Figueiredo, na véspe¬ra, publicou na Gazeta do Norte, as boas vindas aos douto¬res Francisco Sá, Daniel de Carvalho, Melo Viana e Alfredo Sá, e também versos elogiosos, demonstrando a alegria e a gratidão dos montes-clarenses por aquela visita impor¬tante. E o ministro não nos decepcionou. No dia 8/6/1924 chegava a nossa cidade, com sua grande comitiva e era alvo de todas as atenções. O doutor Francisco Sá desceu a pé pelas ruas enfeitadas com arcadas de bambu, flores, bandeirolas coloridas e em todas as esquinas faixas de boas vindas, até a casa antiga onde funciona atualmente o Colégio Imaculada, na avenida Estrela, hoje Cel. Prates, onde se hospedou por dois dias. Nessa trajetória foi acompanhado pela multidão, ao som da Banda Euterpe e o pipocar do foguetório. À noite realizou-se o banquete preparado com luxo e requinte, com cem talheres e bebidas importadas. Mais tarde, foi o esperado Baile de Gala que foi um verdadeiro sucesso. Os visitantes ficaram encantadíssimos com a beleza e educação das sertanejas e alguns engenhei¬ros mortalmente feridos pelas setas envenenadas do Cupido. . No dia seguinte, para a tristeza de todos, o ministra se foi com sua comitiva, mas deixando a certeza, no cora¬ção dos montes-clarenses, de que voltaria em 1926, para inaugurar a Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil em Montes Claros.
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