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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 20 de setembro de 2024
 

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Mensagem: JANAÚBA SESSENTONA

José Prates

Da esplanada da estação cheia de casas de ferroviários, até a Praça da Igreja, onde ficava a maioria das residências e o comércio resumido a duas ou três lojas que vendia “de um tudo”, tinha que percorrer uma estrada poeirenta, com cerca de arame de um lado, separando a estrada de ferro e do outro lado, uma casa aqui, outra ali entrando numa rua que começava a nascer, saindo da praça. Fora a mansão do Dr. Maurício, dentista de profissão que chegou com a construção da estrada e se firmou ali, tornando-se político mais tarde, não havia mais nada, nem pra lá nem pra cá. Só mato rasteiro, numa área vazia até o rio Gorutuba, caudaloso, onde a garotada ao final da tarde, ia dar um mergulho, pulando da ribanceira.. Do outro lado da ferrovia, pouco distante da praça, um amontoado de casas em ruas estreitas, cheia de bares e botequins com iluminação a carbureto que a moçada chamava de “fovôco”. Era ali que o jovem solteiro, sem compromisso, ia divertir-se à noite, nos bares com cadeiras nas calçadas, com as “mundanas” disponíveis que se ofereciam como mercadoria em feira livre.
Luz elétrica somente depois das seis horas da tarde até a meia noite, tempo que funcionava o motor a diesel, que não me lembro onde ficava. Era um povoado que crescia rápido com muita gente que vinha de fora. Mesmo assim, todo mundo conhecia todo mundo a ponto de dar bom dia ou boa tarde ao se cruzarem na rua e os homens, reverentes, tiravam o chapéu à passagem de uma mulher.
Era um distrito do município de Francisco Sá. Um distrito que crescia pelo trabalho e apoio de pessoas como o Dr. Mauricio de Azevedo, Antonino Catolé, Veraldino Conrado da Silva, Péricles de Oliveira, Moisés Bento Lacerda e alguns outros que buscavam com muito esforço, o progresso daquele povoado. Todos vieram com a estrada de ferro, trabalhando na sua construção e ali ficaram integrando a população que começou a crescer.
A economia básica era a agricultura, destacando-se milho e algodão. Compradores desses produtos, três eram os principais: “seu” Veraldino, Moisés e “seu” Virgílio. Tinham seus armazéns próprios que enchiam desses produtos para despacharem em vagões lotados, para lugares distantes, como Belo Horizonte, Rio e São Paulo, onde estavam as firmas compradoras..
O trem, mixto de carga e passageiro, vindo de Montes Claros, era diário. Apenas uma parada de uma hora, prosseguindo pra Monte Azul, final da linha. “Na hora do trem”, a plataforma da estação estava sempre cheia e festiva. Muitos que esperavam quem chegava e muitos que se despediam dos que partiam. A locomotiva Maria fumaça soltava seu grito na entrada da reta de chegada e o guarda-chave corria de bandeira na mão, pra liberar o sinal. O trem entrava devagar, arquejante, com o sino repicando como saudação aos que lhe esperavam.
Mais gente foi chegando, mais meninos nascendo e o número de crianças foi aumentando de ano a ano. Com tanta criança, veio a primeira escola estadual de ensino primário, instalada na praça, num prédio com quatro salas, construído pra esse fim. Foi dirigida pela professora D. Lourdes Maia esposa de “seu” Veraldino.
O povoado crescia rápido. Com o crescimento, veio o Posto Policial com três soldados e um cabo; a delegacia tinha uma cela que vivia aberta, e pelo que sei, nunca foi usada.. O cartório de registro civil com o escrivão Odethon B. Cavalcante, não demorou a vir e com ele o Juiz de Paz, fazedor de casamentos. O correio instalou-se na rua nova que saia da praça rumo à estação de trem. O primeiro Hotel instalou-se, também, na praça e era freqüentado por viajantes que por ali passavam com freqüência, vindos a negócio.
Havia vida social. Eram os bailes domingueiros no clube ou nas noites de sábado no salão do hotel. A juventude comparecia em massa, dançando agarradinho, ao som da sanfona de “Zé pé pro mato”, sob os olhares fiscalizadores das mães das donzelas. Bebida alcoólica, só para “os mais velhos”. À meia noite, a sirene avisava que a luz ia apagar. O baile acabava.
Ao final de 1948, o distrito foi emancipado e criado o município de Janaúba.
Dias depois era fundada a cidade de Janaúba, em solenidade festiva no salão do clube, com a presença do Dr. José Esteves, Deputado Federal pelo PR e fazendeiro na região; Dr. .Antonio Pimenta, Deputado Estadual pelo PSD e o Dr. Plínio Ribeiro candidato a Deputado Federal pelo PSD, juntamente com representantes locais como Antonino Catulé, Veraldino Silva, Dr. Maurício Azevedo e eu, com meus 22 anos; um menino de sete anos, eu não me lembro o nome, representou os filhos da terra. A ata de fundação da cidade foi lavrada por Odethon Cavlcante e assinada por todos os presentes. Uma salva de vinte e um tiros saudou a cidade que nascia banhada pelo rio gorutuba e envolta nas fraldas da esperança e do amor de um grupo de amantes da terra.
Um Interventor nomeado pelo Governo do Estado assumiu e organizou a Prefeitura e eleições para Prefeito e vereadores foram marcadas. Candidataram-se para Prefeito Percles de Oliveira pelo PR com apoio de Antnino Catolé. Pela UDN candidatou-se Mauricio de Azevedo. A campanha foi desenvolvida com tranqüilidade, com os candidatos percorrendo o município, levando as suas propostas. Terminada a eleição, verificou-se a vitória de Mauricio de Azevedo, primeiro Prefeito eleito de Janaúba.
Como Janaúba. está hoje, não sei. Mais de meio século sem ir até lá. Bem que gostaria de saber. Mandem-me notícias. Leio todos os dias o “moc.com”

(José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal, percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a família. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente adido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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