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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 20 de setembro de 2024
 

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Mensagem: O baluarte que cai

Manoel Hygino (Hoje em Dia)

Tenho duas coisas a contar; uma boa e outra ruim. Que dizer primeiro? Dúvida cruel, mas indesviável. Com resposta também imprescindível. Vamos à notícia benfazeja. Reivaldo Canela lança o primeiro livro. O inaugural? Suponho que sim, não conheço outro anterior.
O autor escreve bem, vem de longa e bem afortunada experiência nos jornais, pertenceu e pertence a grêmios literários, tem estirpe, vem conquistando manifestações favoráveis dos leitores, sobretudo os norte-mineiros, dos quais nasceu e junto aos quais convive.
‘Menino Pescador‘ é autobiográfico, valorizado pela fiel descrição de sítios e personagens, da flora e fauna de extensa e sofrida região. Sente-se o cheiro das flores e a cor das plumas das aves. Por conhecer esses quase mistérios, que escapam ao visitante desinteressado, ama o que vê e sente.
No berço, aprendeu a entender a significação da família, que se vai desagregando modernamente ao sabor do vento. A violência reinante é testemunho do esgarçamento do tecido social. Os pais viveram bem e tiveram filhos, soberanos até nos nomes: Reivaldo, Reinine, Reinilson, Reinice e Reinilde.
O alter ego de Reivaldo é Nivaldo, mas tudo flui da fonte ascendente, de Cândido Canela, o maior poeta sertanejo do Norte de Minas, e de Laurinda, casados a despeito das divergências políticas antigas. Viveram e foram felizes aqui e, depois, quando se mudaram para dimensões mais altas.
É espelho de uma época em que as pessoas do interior, desesperançadas dos poderes públicos, mantinham-se fiéis a tradições, lutando para sobreviver honestamente e deixar exemplo de probidade aos filhos. Recorda-se um período bravo, mas mais decente, quando se brigava por valores sociais e humanos maiores, e cuidava de preservar o meio ambiente, sem preocupação de campanhas e slogans, porque se sentiu o sertão se desfigurar, destruído por muitos e perniciosos interesses.
Nessas páginas que li, revigorei-me com o halo do sertão em que também nasci, e em que, quando a Justiça pública falhava, se lutava, ainda que impropriamente, para fazer prevalecer o bom e o digno entre os homens. Nozinho Canela, serventuário público, autêntico, defendia pela imprensa e na tribuna da edilidade o patrimônio maior que os avós legaram ao bem comum.
‘Menino Pescador‘ é uma demonstração da solidez de cultura de um povo. Nada faz esmorecer essa gente, de que Reivaldo Canela é porta-voz e que tão bem descreve os pássaros, as árvores, os peixes, a bonança da chuva e a inclemência das longas estiagens.
Enfatiza a importância da célula familiar para que a sociedade não se perca nos desvãos ínvios de uma época materializada e consumista, fomentada pelos meios de comunicação e incrementada ao desvario por perigosos agentes, como as drogas e toda ilegalidade a elas associada.
Em resumo, esse livro diz que não é difícil ser honesto e coerente, que é possível ser feliz e contribuir para a felicidade alheia.
Afora as belas lembranças da terra sertaneja e de sua gente, há muito a se aproveitar no trabalho do autor, inclusive sua boa poesia. Não são as veredas de Rosa. Mas é o cerrado, das terras mais fracas e ácidas, zona do pau torto, mas que - se intocado, se respeitado - é vivo e vibrante. Tem beleza e tem vigor.
A segunda notícia é a má. A casa da praça Honorato Alves, em que viveram Cândido e Laurinda, onde criaram filhos e netos, vai ser demolida para ceder espaço a um fruto do progresso. Cai uma baluarte do sertanismo em Minas Gerais.

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