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Mensagem: A MENINA DILMA Oswaldo Antunes O que comoveu e chamou a atenção dos que viram/ouviram e não se esquecerão do detalhe, não foi a poderosa ministra da casa civil do governo. Foi “a menina de 19 anos que, torturada, mentiu para não entregar companheiros e que, quando falou, exibiu o coração e a bravura”. Lembro-me bem de como assustavam os porões da ditadura nos anos de chumbo. Ao ser chamado perante um agente policial para dar esclarecimentos a propósito de noticias sobre mau gasto do dinheiro publico, fiquei, na mesa de interrogatório, em frente a uma metralhadora engatilhada. Depois, em Juiz de Fora, no tribunal militar, o interrogador pressionou com ameaças para saber quem havia feito a noticia simples, mas significativa, do espancamento de um sepultador de indigentes por soldados armados. Foi preciso, sim, coração e coragem para sofrer as conseqüências de não entregar os companheiros, tentando valer-me dos direitos que a lei assegurava mas a ignorância negava.Quando, não faz muito tempo, foi sepultado em Montes Claros o torturado homem do povo Porfírio Francisco de Sousa, me lembrei de Bertold Brecht a propósito dos que lutam sem esperança de vitória. Uns lutam apenas um dia e podem ser considerados bons. Mas os que mantêm o espírito de luta a vida inteira, esses são imprescindíveis. Sem eles não teria havido, na ditadura armada, a luta clandestina contra a injustiça. Como não teria funcionado a lúcida, corajosa e desconhecida liderança legitimamente popular, na defesa de idéias sociais que, embora negadas, contribuíram para o reconhecimento de muitas injustiças. É fácil verberar aparecendo no noticiário e na TV Senado, com as mordomias asseguradas. Difícil é viver e lutar anonimamente. É tentar, sem que a mídia saiba, acabar com o analfabetismo político que impede as pessoas de ouvir, falar e participar. É estar, até o último minuto, junto ao analfabeto político que morre de fome sem saber as razões do custo de vida; do pobre que, calado, engole o preço do feijão, da farinha, do remédio e das decisões políticas; dos que, com uma simples humanidade aparentemente conformada, lutam contra a injustiça; e por intuição buscam sentido para a vida. O depoimento mostrou a coragem dos torturados. Ali estava também uma afirmação de impossibilidade de legitima defesa contra a tortura. Apareceu, ainda, o símbolo da integração masculino/feminino que, no poder, não esqueceu a utopia necessária às conquistas e capaz de levar ao patíbulo. A ministra mostrou, com veemente clareza, o significado de uma dignidade que vem sendo esquecida, a das vítimas. Mostrou que o valor de ser digno falta nos escaninhos da política, apesar de ser suporte da grandeza. Alguns senadores que tiveram a intenção de agredir foram vistos abaixando a cabeça com respeito. Vale lembrar a frase “compreender é perdoar” quando urge o resgate da consciência política contra a violência.
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