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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 20 de setembro de 2024
 

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Mensagem: ADEUS, FREI LAMBAS! Deixou-nos, em 11 de maio de 2008, o Desembargador Lamberto de Oliveira Sant’Ana. Conheci-o no final dos anos 50, do século próximo passado, seminarista em Montes Claros. Era filho de “seu” Lourenço Sant’Ana e de D. Zelita, que residiam no primeiro andar de um prédio da rua Dr. Santos. “Seu” Lourenço, soteropolitano, adotou nossa aldeia e nela trabalhou por longos anos. Foi, dentre outras atividades, concessionário da SIMCA, cuja sede era no mesmo edifício, de sua propriedade, em que abrigava a família. O casal teve dois filhos. Lamberto, que nasceu em Pedra Azul, a “Fortaleza do Vale”, e Osmane, nosso querido e saudoso “Binha”. A partir dos anos 60, seríamos três vezes colegas: na Faculdade de Direito da UFMG (eu calouro dele), na advocacia e na magistratura. Na faculdade lutamos contra a ditadura. Quando foi editado o AI-1, ele foi patrocinador de um dos mais sutis protestos que o movimento estudantil mineiro já conheceu. Estávamos, à noite, no edifício Arcângelo Malleta e recebemos a notícia. Começamos a vaiar. Entraram no prédio vários policiais, civis e militares, para impedir a manifestação. Lamberto, que todos já chamavam de “Frei Lambas”, por sua sabedoria, bondade e profunda religiosidade, ao perceber a entrada deles, se levantou e pediu a todos que permanecessem em seus lugares, em absoluto silêncio. Foi imediatamente obedecido. Quando os policiais se retiraram, sem graça, ele começou a estalar os dedos de uma das mãos, o polegar no médio, no que foi acompanhado por quase todas as pessoas que, àquela hora, lotavam os bares e corredores do prédio. Os policiais retornaram, ferozes, mas ficaram sem ação: como proibir tanta gente de estalar os dedos? Lamberto colou grau de bacharel em Direito, inscreveu-se na OAB e retornou a Montes Claros, onde exerceu honrosa advocacia. Decorridos cerca de quatro anos cheguei eu e ele, pouco tempo depois, seria aprovado no concurso para Juiz de Direito. Resolveu assumir e passou-me vários casos de seu escritório, que era no Edifício Ciosa, na Praça Dr. Carlos. Em 1982 também fiz o mesmo concurso e ingressei na magistratura. Ele já era Juiz da Comarca de Curvelo. Em meu primeiro livro, Estórias do Bala, registrei um fato de sua passagem por essa comarca. Num julgamento do Tribunal do Júri, ele perguntou ao réu: — O senhor atirou na vítima? — Não atirei não, dotô, é que eu tava cum revolve na cintura, ele disparou, a bala bateu numa pedra, ripicou e furou a testa do vítimo. — O senhor está pensando que bala de revólver é aquele gás fedorento, que sai pelo ânus, desce pela boca da calça e reflete no nariz? O réu acabou confessando, tranqüilo, a autoria do crime ao paciente e sacerdotal magistrado. Quando fui promovido para Belo Horizonte, em 1992, ele ali já se encontrava. Para minha alegria, ainda trabalhamos, bom tempo, no Fórum Lafayette, ele sumariante do I Tribunal do Júri e eu na 6ª Vara Criminal. Sempre nos visitávamos em nossos gabinetes e relembrávamos nossa querida aldeia, nossos parentes e amigos. Eu me aposentei e ele foi promovido a Juiz do Tribunal de Alçada. Com a fusão dos tribunais, assumiu o cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça, que exerceu, por longos anos, com dedicação e brilhantismo, até aposentar-se compulsoriamente, aos 70 anos de idade. Lamberto deixou viúva D. Lia de Oliveira Santana, sua dedicada esposa, mãe de seus três filhos, Leonardo (dentista), Luciano (advogado) e Alisieux (economista e advogada). Deixou seis netos. A viagem precoce desse grande amigo, que foi um dos maiores latinistas que conheci, de caligrafia perfeita, entristeceu e plantou imensa saudade nos corações de muitas pessoas, porque ele foi um homem alegre, culto, virtuoso e extremamente solidário. Fará muita falta a todos nós. Lambertus, requiescat in pacem!

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