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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 20 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Não se elege um poste

Waldyr Senna Batista

Em que medida pode um governador de Estado, com elevados índices de aprovação, influir para a eleição de um candidato a prefeito em cidade de porte médio ? A resposta está sujeita aos acasos da política.
Ninguém consegue eleger um poste, segundo o jargão muito em voga no meio político, depois que o inefável Paulo Maluf, gozando de indiscutível prestígio, se propôs a eleger Celso Pitta prefeito de São Paulo. “Eu elejo até um poste”, disse ele, com o sotaque característico. E elegeu mesmo.
Mas por estas bandas essa história de transferência de prestígio é discutível. Às vezes funcionava, ao tempo em que a simples designação de uma diretora de escola podia mudar o resultado da eleição. Ou a instalação de um mata-burro na estrada da região em que o coronel era dono de forte “mandiocal” e usava o “melhoramento” para mostrar força junto ao governo.
Mudaram-se os costumes. Agora, não basta apenas estar com a caneta em punho para determinar como as coisas vão acontecer. A legislação eleitoral impede certas decisões em véspera de eleição, e o ministério público e a justiça eleitoral desfrutam de independência total para a aplicação das normas. Além disso, o eleitorado, escudado pela urna eletrônica, não se deixa dominar com facilidade.
O que não significa dizer que o processo eleitoral passou a ser coisa de anjos e que esteja a salvo de influências negativas. Elas acontecem, mas são grandes os riscos assumidos pelos infratores. Agora mesmo um juiz tirou do ar um candidato camuflado. Antes não se via, como na atualidade, prefeito perder mandato e até ser preso em razão de infrações cometidas durante a campanha. Nos dias de hoje, a disputa se desenvolve de maneira transparente, com limitações ao uso dos meios de comunicação e contenção rigorosa da influência do poder econômico.
A campanha eleitoral de quatro anos atrás, em Montes Claros, pode servir de exemplo para mostrar como o eleitorado está resistente a procedimentos de cúpula que contrariem a tendência natural das coisas. Naquela ocasião, o então prefeito Jairo Ataíde costurava acordo que previa o apoio do seu grupo ao candidato Athos Avelino. Outros dois disputantes se alinhavam, um deles o deputado Gil Pereira, que aparentava posição privilegiada, tudo indicando que seria o candidato de oposição ao então prefeito. A cidade foi dormir com esse esboço, na última noite do prazo de escolha de candidatos, e acordou com um quadro totalmente diverso, ao que se soube por influência direta do governador Aécio Neves: Gil tomou o lugar que seria de Athos, que teve de assumir o papel de oposição, montando uma chapa com vice improvisado.
Na prática, o esquema não funcionou porque parte do grupo do prefeito, tendo à frente o vice-prefeito Ucho Ribeiro, abriu dissidência e apoiou a candidatura de Athos, que se elegeu; e Gil, de franco favorito que era, não chegou sequer ao segundo turno.
No cenário que se descortina agora, os personagens são exatamente os mesmos de quatro anos atrás e, de novo, fala-se que a decisão definitiva só será adotada por Jairo depois que Aécio se pronunciar. Aécio, que pode ser considerado o grande derrotado na eleição passada. Ou seja, o desacerto anterior não serviu de lição. Quem poderá garantir que o que não deu certo antes produzirá resultado diferente agora? É verdade que Jairo não é um “poste”, já disputou seis eleições e ganhou três.
Poucos entenderam a razão pela qual, em vez de ajudar, a influência do palácio da Liberdade atrapalhou. É que essa fórmula, que no passado distante funcionava maravilhosamente bem, caducou. Em Montes Claros, especialmente, por um fator que não foi considerado antes e parece não estar sendo levado na devida conta nas negociações em curso: o eleitorado aqui tem se mostrado avesso a decisões urdidas em gabinetes.

(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).

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