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Mensagem: GUIDA E A FAROFA DE JOÃO MAIA Margarida Luíza de Matos Vieira, Guida, esposa de meu irmão caçula, Xandão, tornou-se, na verdade, a irmã que eu não tive. Filha de um dos grandes homens que conheci em minha vida (Dr. Gastão de Matos, que foi tisiologista em Belo Horizonte, nos tempos em que até Noel Rosa vinha às Alterosas para se tratar), criada com todas as regalias das famílias abastadas da capital, ainda estudante, embrenhou-se pela guerrilha, na luta contra a ditadura, onde conheceu mais de perto, amou e nunca mais se separou de meu irmão. Tornou-se uma das grandes intelectuais de Minas, com bacharelado, mestrado e doutorado em História. Tem vários livros e artigos publicados. Foi, até aposentar-se, brilhante professora na Faculdade de Filosofia da UFMG, onde ingressou, transferida da FAFIL de Montes Claros, pelas mãos de meus queridos amigos Lincoln Prates e Leônidas Prates Lafetá. Hoje, aposentada e tranqüila, residindo num aconchegante recanto, próximo à cidade de Pedro Leopoldo, só viaja de vez em quando, para lançar um livro, fazer uma palestra ou integrar alguma banca examinadora de concurso público para o magistério superior. Foi candidata a vice-governadora de Patrus e, depois, a governadora, pelo PSB. Obteve quase quinhentos mil votos. Na última eleição candidatou-se a deputada estadual e não foi eleita, muito mais devido à pobreza de sua campanha do que à sua capacidade. Pois bem, Xandão contou-me, nas recentes comemorações de seus 60 anos que, durante a campanha política, levou-a para almoçar no restaurante de João Maia, ponto de parada obrigatório não só dele, mas meu e de nosso outro irmão, Guilhermão, antes de chegarmos ou quando retornamos de nossa aldeia. Xandão fizera a maior propaganda da farofa de João Maia, tão convincente que Guida desejou conhecer a maneira como a guloseima era preparada. João Maia, então, convidou-a à cozinha. Aproximaram-se de um panelão, com farofa já pronta. Enquanto João Maia dissecava as artimanhas usadas para se chegar àquele ponto de perfeição culinária, Guida pediu para dar uma experimentada. Xandão, velho catrumano, antecipou-se à esposa e estendeu, logo, uma das mãos, onde João Maia depositou uma colherada. Na maior habilidade, como fazemos, desde a infância, em nosso Norte de Minas, arremessou, num único e hábil movimento, toda aquela porção em sua boca, sem nada desperdiçar. Guida, impressionadíssima com a perícia do marido, quis imitá-lo, só que estendeu as duas mãos. João Maia, já desconfiado, devido àquela dupla extensão, nelas depositou a farofa. Ela, então, não conseguindo arremessar a porção à boca, elevou as duas mãos, em cunha, até os lábios e começou a lamber o conteúdo. João Maia, com aquele jeitão que só ele tem de brincar com as pessoas, comentou, no ato: — Xandão, pra que essa mulher sua estudou tanto? Não aprendeu nem comer uma farofa?!?!
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