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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A QUEDA DO AVIÃO

Um caminhão de defuntos! Em 1955, caiu sobre esta terra de Figueira uma chuva que durou quarenta dias. A cidade ficou isolada por terra, com as estradas rompidas e sem socorro aéreo dado ao nevoeiro constante e a chuva que caia ininterruptamente.
Com uma aparente melhora do tempo em um dia, passageiros que estavam em Belo Horizonte ficaram afoitos e motivados pela saudade do lar fretaram um avião executivo voando para Montes Claros.
Como o tempo piorou o piloto não encontrava o aeroporto as autoridades convocaram os proprietários de veículos que rumaram até à pista de pouso e a iluminaram, buscando permitir o pouso de emergência.
Por pouco o avião não pousou na Praça da Catedral, em virtude do piloto devido à neblina ter avistado a luz vermelha no alto da torre e confundido com a da pista o aeroporto.
A cidade entrou em oração e ação! O destino, entretanto, foi mais contundente. Após voar em círculos e em baixa altitude já de noite, para gastar o combustível, e diminuir o risco de incêndio durante o pouso, deu-se a tragédia e o avião chocou-se contra o topo de um morro nas cercanias da nossa cidade sem sobreviventes.
O resgate dos corpos, a passagem difícil em macas pela forte correnteza de um rio e o transporte até a cidade, foi uma aventura comandada pelo capitão Coelho, delegado de polícia local. Requisitaram-se voluntários entre os moradores locais, para compor o efetivo.
A operação foi fartamente documentada por fotos clicadas pelo fotógrafo Coriolano Guedes, do estúdio CG, montado na rua Doutor Santos, no centro.
Recolhidos os corpos das vítimas e empilhados na carroceria de um caminhão da prefeitura foram transportados até à rua Tiradentes em frente ao número 216, porta da casa de dona Maria Ramiro. Dado a impossibilidade da vinda de legistas da capital para fazerem as competentes necropsias em tão grande quantidade de corpos, o juiz de direito e George o agente de saúde que morava naquela rua liberaram esse trabalho confiando-os aos médicos locais.
De pé, na janela rococó da casa de Maria Ramiro, minha vizinha pude então vislumbrar o quadro dantesco do estado dos corpos quando a lona que os cobria foi retirada para a vistoria do agente e do juiz, quase desmaiando pelo impacto da cena. Um militar chamou o capitão e informou que o corpo do piloto, um gigante de tamanho e força ainda tinha movimentos.
Ele perdera a perna direita e os braços durante o impacto, assim como outros passageiros e os membros estavam amontoados no fundo da carroceria.
Os corpos, dado à umidade da chuva constante, não exalavam mau cheiro, apesar do tempo transcorrido entre o acidente e o resgate, mais de uma semana.
Impressionado, em decorrência da terrível cena vista, passei mais de trinta dias sem comer carne!
Por mais de um ano o acidente tornou-se assunto cativo de rodinhas das esquinas que comentavam o fato e os detalhes do acontecimento macabro.

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