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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 19 de setembro de 2024
 

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Mensagem: No dia 1º de dezembro de 1968, Juscelino escreveu: “Aos caros amigos, Arinha e Pedro, o meu abraço”. E assinou – Juscelino Kubitscheck de Oliveira.

Eram dias tumultuosos da vida política do Brasil. Exatos doze dias depois, em 13 de dezembro de 1968, atônito, o Brasil veria desabar o Ato Institucional nº. 5, o tristemente famoso AI-5, que aprofundou a níveis inéditos o jugo ditatorial do estado sobre a nação, e que vigoraria por cerca de 20 anos.

Foi uma rude pancada de primitivismo político, muito mais ampla e de repercussões mais duras do que o próprio 31 de março de 1964.

Mas, esta é outra história, da qual o Brasil ouve e ouvirá falar por centenários.

Nesta mensagem, que desejo curta, procuro apenas fixar o dia em que Arinha e Pedro Veloso – dois dos mais altos personagens da história de M. Claros – receberam na Fazenda das Quebradas – que escrevo em letras maiúsculas – receberam o presidente da República mais popular do Brasil, já proscrito e perseguido.

Era sempre assim. As visitas mais altas, mais ilustres, sempre recolheram da Fazenda das Quebradas a expressão da cordialidade e do apreço de M. Claros. Era a sua sala de visita, a tradução mor de nossa lhaneza.

O abraço de JK lá está na parede, emoldurado por um vidro, que o preserva. Abaixo, a sua foto.

Esta Fazenda das Quebradas é o dodói de M. Claros, e pertence à sua história.

Pesquisem os livros e verão. A casa grande foi erguida há quase 150 anos, do outro lado da serraria que dá nome a civilização que surgiu do lado de cá do sopé dos montes claros.

(E de onde, lamentavelmente, nos dias de carnamontes é possível ouvir o barulho que não deixa a cidade dormir por duas noites, som desrespeitoso que vaza a muralha de pedra e incomoda também do outro lado, território de passarinhos).

Pois bem.

Esta casa que também recebeu JK, horas antes de desabar o AI-5 e sua corte arbitrária, esta casa que era o caminho da roça de Darcy Ribeiro nas suas vindas e nas cheganças de todos os altos nomes que nos honraram, esta casa está prostrada, golpeada, humilhada, desfalecida.

De sopetão, urdido na burocracia fria e insensível dos gabinetes, um decreto definiu que o patrimônio das gentes de M. Claros, a partir daquela data, deveria transformar-se em patrimônio do estado mineiro, distante, como sede de um Parque Florestal – chamado, creio, de Lapa Grande.

Ignoraram a história. Ignoraram o passado (que não passou). Ignoraram os que lá moram, tendo por símbolo Dona Arinha Veloso, esposa de Pedro Veloso, irmã de Lucy, já falecidos. Ignoraram tudo.

De uma só pancada, como um AI-5 de brutalidade municipal, o poder golpeou uma lenda, uma divisa.

Se o Parque realmente se tornasse realidade, honrando e premiando o trabalho de quem escreveu aquela história, recompensando a casa por trabalho centenário de preservação e de amor, não haveria de que lamentar. Não estaríamos a prantear. Estaríamos aqui de pé, para aplaudir.

Mas, o que se viu, foi bem diferente.

O decreto para a desapropriação humilhante tornou toda a área inerte, hibernando-a na ociosidade e na mandrice, que fazem o casarão histórico ruir sobre si, escombro de uma legenda.

De desgosto, dona Arinha nunca mais abriu as janelas do vetusto casarão.

Coisa impensável - depois de quase um século, em silêncio ela deixou o local. Com disposição de não voltar, para não aprofundar a dor já muito cava.
Mora agora fisicamente na cidade.

E apenas em pensamento cruza a montanha e visita o campo de muitas vidas, cercado de lendas e de histórias.

Seus netos não foram, até agora, por justo valor, indenizados pela propriedade que agoniza, silenciando ecos laboriosos que transpunham as penhas e traziam notícias venturosas para o lado de cá desta civilização que se construiu pelo trabalho e pela honradez.

O processo de desapropriação – injusto, desgastante, arrasta-se também para os demais proprietários, vizinhos.

Do outro lado da nossa municipal cordilheira agoniza parte da história de M. Claros. De maneira perversa, arrogante, injusta.

Em nome da natureza não contemplada, vimos, golpeou-se a história. Mais grave: em nome dela, mutilam-se pessoas que de todos só merecem aplausos.

Não será sobre injustiças que se construirá, para agora e para adiante, no futuro, um parque de onde as gerações que a esta sucederem recolherão belas histórias.

Não se faz o futuro desta forma, esmagando o passado de muitas lutas. Não, não podemos concordar.


(Nas fotos, JK e sua assinatura na parede nua; os escombros do casarão e o casal benemérito de Montes Claros, Arinha e Pedro Veloso, nos melhores dias das Quebradas)

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