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Mensagem: E... A CEMIG CHEGOU!José Prates Não me lembro bem se foi final de 1952 ou 1953, Juscelino Kubistcheck era o governador do Estado de Minas Gerais, já candidato apalavrado à Presidência da República, pelo PSD e o Capitão Enéas Mineiro de Souza, nordestino dinâmico que conseguiu vencer à custa de muito trabalho, era o Prefeito de Montes Claros. Os Drs. Plínio Ribeiro e Antônio Pimenta eram candidatos, respectivamente, a deputado federal e reeleição a deputado estadual. O dr. Alfeu Quadros, seria o candidato pessedista a Prefeito nas próximas eleições. A liderança política do PSD, no município era de Deba e Neco Santa Maria, “donos” de dois terços dos eleitores inscritos no município. Ambos fazendeiros, tinham extraordinária influência política, principalmente na zona rural, onde o voto chamado de “cabresto”, não era do candidato, mas, do chefe político. Do outro lado estava o PR do dr. José Esteves Rodrigues, fazendeiro e Deputado Federal. Não era uma grande força política, mas fazia boa sombra ao PSD. Naquela ocasião, vários problemas afligiam Montes Claros, sendo os principais água e luz. A água barrenta, sem tratamento, quase imprópria para o consumo, enquanto a luz, muito fraca, impossibilitava o desenvolvimento econômico da cidade. A industria existente, uma refinaria de óleo de algodão, tinha geradores de energia próprios, porque a energia pública era insuficiente. Até o jornal, para ter condições de circular, instalou um gerador próprio. O projeto do Governador Juscelino que era o binômio energia e transporte, tinha por meta a criação da Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, na qual não constava a inclusão do norte do Estado pela ausência de condições para novas usinas, como também a dificuldades de transmissão da energia produzida em outras partes, pela demanda de grandes recursos financeiros. A situação estava dificil. Embora tivesse boa amizade com o governador, o Capitão Enéas era avesso às viagens políticas e encontros formais. Homem dinâmico, empreendedor, mas de pouca cultura evitava as reuniões. Tratar de assuntos do município que não fossem de caráter exclusivamente administrativos, mas, apenas, políticos, deixava que fossem tratados pelos políticos que, segundo ele, eram mais afeitos a negociações e conchavos. Foi assim que depois de algumas reuniões na casa do próprio Capitão, quando trataram da questão da luz e água, que ficou resolvida a ida do dr. .Plinio acompanhado por Deba, a Belo Horizonte, onde encontrariam o Deputado Antonio Pimenta, para tentarem falar com o governador sobre os problemas de Montes Claros. Foi, então, o dr..Antonio Pimenta incumbido de conseguir o encontro, em nome do PSD local. Para agendar esse encontro, não falariam em problemas do município, mas da campanha eleitoral Seria para tratar da campanha eleitoral para presidente, no norte do Estado.. Isto é o que proporiam, para facilitar o agendamento. O dr. .Antônio Pimenta, porem, não estava conseguindo convencer a equipe do governador, da necessidade do encontro. Alegavam ainda não ser ocasião para tal. Mesmo assim, Dr. Plínio, Dr. João Pimenta e Deba resolveram ir para Belo Horizonte, tentarem com sua presença, . conseguir o encontro. Fui incumbido por Zezinho Fonseca, redator chefe do JORNAL DE MONTES CLAROS, de fazer a cobertura do encontro. Fomos, então, de trem, para Belo Horizonte., porque Deba não viajava de avião. Chegando lá, fui para uma pensãozinha na Rua Rui Barbosa, enquanto os outros ficaram num Hotel perto da Praça Sete, onde já estavam alguns políticos do interior, tentando falar com o Governador. Depois de quatro dias na pensão e eles no Hotel, sem nada resolver, nem perspectiva de quando iriam falar com Juscelino, tomei uma decisão. Sem consultar ninguém, resolvi agir por conta própria. Da redação do Jornal FOLHA DE MINAS, onde tinha amigos, telefonei para o Palácio da Liberdade, dizendo-me repórter do Jornal de Montes Claros que estava em B.H. coma a finalidade exclusiva de entrevistar o governador. Quem do outro lado atendeu-me ao telefone, deu-me outro numero para onde deveria telefonar nesse caso. Telefonei. Falei a mesma coisa. A resposta foi que o governador só concedia entrevista a jornalistas credenciados no palácio e quando convocados por ele. Esperei algum tempo, duas horas, telefonei de novo. Desta vez, uma voz feminina atendeu. Disse-lhe que gostaria de falar com o governador. Quem gostaria? Eu arrisquei: “Enéas Mineiro, Prefeito de Montes Claros”. Qual o assunto, perguntou ela. De amizade particular, respondi. Pediu que esperasse. Naquele instante fiquei tenso, apreensivo. O que dizer ao governador, se ele atendesse? O que conversar se eu de nada sabia a respeito disso ou daquilo que, por acaso, perguntasse o governador? Tive vontade de desligar o telefone e ir embora. Temerário seria dizer que ali estava Enéas Mineiro de Souza e marcar um encontro. Raciocinei rápido e decidi falar a verdade, explicando os motivos daquele telefonema. Estava nesse estado de nervo, quando ouvi a voz do outro lado da linha: Alô Enéas, como passas? Diga o que desejas. Respirei fundo e me desculpei dizendo que não estava ali o Capitão Enéas, mas um jornalista que recebeu a incumbência de entrevistá-lo. Expliquei as dificuldades que estava encontrando para desincumbir-me da missão e, então, resolvi proceder desse modo. “É muita ousadia” disse ele em voz alta. Retruquei sem pensar: a ousadia, governador, faz parte do jornalismo. Disse-lhe em seguida, que o fim justifica os meios, mesmo inusitados. Houve um minuto de silêncio. Falou, então, com voz calma: “fique ao telefone”. Esperei uns cinco minutos, minutos de tensão que me deram vontade de largar tudo e ir embora. Outra voz ao telefone, perguntou meu nome. Quando disse, esse alguém sorriu dizendo ser coincidência, porque, ele, também, é Prates, João Prates, se me lembro bem. Descendente da família de Carlos Prates que continua agarrado ao governo. Conversamos um pouco e contei-lhe toda história, omitindo, porém, a presença dos políticos. Ficou, então, acertado que fosse à Granja, sábado, depois das duas horas da tarde. A minha entrada estaria autorizada. Despedimo-nos com um até breve e saí correndo para o Hotel, onde encontrei somente Deba no seu quarto, comendo uvas. Os outros não estavam. Falei o que havia acontecido e que podíamos ir estar com o governador. Em principio, não concordou, achando que isto não seria conveniente. Resolvemos, então, esperar os outros. Dr. Antonio Pimenta achou boa a idéia e, todos, então aceitaram. Pedi na Folha de Minas que me cedessem um fotografo para documentar o encontro. No sábado, no carro do Deputado, seguimos para a Granja – não me lembro o nome desse lugar – Ao chegar, uma sentinela mandou que parássemos e um Sargento veio até nós. Perguntou quem era, dei meu nome e apresentei a identidade do jornal. Falei quem eram os outros que me acompanhavam. Mandou que esperássemos. Foi, e voltou liberando a entrada. Encaminharam-nos a um salão amplo, com sofás alcochoados, onde nos serviram café e água. Não tardou que introduzissem a mim e o fotografo no gabinete do Governador. A entrevista foi rápida. Falei sobre os políticos que lá estavam e da oportunidade que teriam em apresentar o programa da campanha presidencial no norte de Minas. Relutou um pouco, mas, mandou que entrassem. Foi uma hora e meia de conversa. Ao final, Montes Claros estava incluída na CEMIG e os resultados vieram quase um ano depois. Esse episódio foi publicado no Jornal de Montes Claros, omitindo a parte política, com o titulo “Percalços de um repórter”. (José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal, percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a família. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente adido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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