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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A evolução dos tempos

Ruth Tupinambá Graça

É bem agradável sair de casa à noite e dar uma voltinha pela Av. Deputado Esteve Rodrigues.
Quanta luz, quanto movimento!
Barzinhos, lanchonetes, boites, tudo entupidinho de gente, moças e rapazes, muita alegria, muita música, parece uma esta.
Dou um mergulho no passado e afastando as teias de aranha (cortina o tempo) vejo a Montes Claros antiga, a Montes Claros de meus avós, de meus pais e da minha infância, adolescência e juventude. A diferença é assombrosa, chego mesmo a sentir um nó na garganta e vontade chorar, pensando nos nossos antepassados que não tiveram a oportunidade de usufruir dos conhecimentos, tantas invenções e descobertas que nem sequer conheceram: avião, telefone, televisão, computadores, o progresso na área da medicina, engenharia, astrologia, ciências etc.
Mesmo na parte doméstica quanta facilidade para as donas-de-casa! Hoje os eletrodomésticos fazem de tudo com rapidez e perfeição, enquanto, no passado, nossas mães sofreram no pilão, nos pesados ferros de engomar e no calor e desconforto dos enormes fogões à lenha.
A cidade era triste, poeirenta e mal iluminada. Puçá música, pouco movimento e nenhuma diversão. Não existia esse som de civilização, essa vertigem de prazeres que deixa todos eufóricos e os velhos até meio tontos e aflitos.
A juventude hoje tem tudo: dinheiro, conforto, chegando até ao luxo e mordomia. Entretanto, a maioria dos jovens vive angustiada, buscando, muitas vezes, refúgio das drogas.
Contentávamos com tão pouco quando tudo era mais difícil e sem opções! Com que ansiedade esperávamos uma festa, o que era raro. Os bailes na Escola Normal, em benefício da caixa escolar, eram a diversão mais badalada da cidade e mais prestigiada pela nossa sociedade.
Uma semana antes fazíamos castelos (como Gata Borralheira) e como a Cinderela sonhávamos encontra o nosso Príncipe...
A preparação na véspera, era emocionante. Tirávamos do fundo dos baús, os vestidos de gala (chamados vestido de Solrée) cheirando naftalina, colocando-os ao sol para afastar a poeira e o mofo.
A nossa preocupação maior era com a falta de rapazes. Receávamos cozinhar peru (ficar num canto sem dançar), o que era muito comum por falta de par. Era uma disputa e as mais bonitas e melhores dançarinas levavam vantagem.
Os rapazes da nossa sociedade estudavam fora, aparecendo só nas férias. O forte eram caixeiros (balconistas) das Casas Pernambucanas (a loja mais chic da cidade na época), os bancos: o Hipotecário e Agrícola e o Comércio Indústria de Minas /Gerais; alguns comerciantes solteiros e os viajantes que apareciam temporariamente vindos da capital, hospedados no Hotel São José (recém-construído), cabelos englostorados, perfumados e bem falantes, puxando os xis, conquistavam na certa.
A festa era um delírio, para as moças casadoiras. A orquestra tocava sem parar. Objetivo dos jovens era dançar mesmo, nada de bebidas.
As mães se assentavam em cadeiras colocadas em volta do salão enorme e de olho das donzelas, o máximo que poderia acontecer era uma raspadinha de leve, na face da companheira, quando rodopiavam ao som da valsa ou ao compasso lento e gostoso do bolero.
Os mais amorosos aproveitavam a música romântica para traduzir seus sentimentos e apertando, docemente, a amada declaravam sua paixão. Era só isto, nada mais, nem um beijo sequer...
Quando a música terminava, ansiosos pediam bis para prolongar um pouco mais, aquele doce enlevo.
Lá pela meia noite terminava o baile. Os casais se separava, com olhares que traduziam amor e desejos insatisfeitos, a as mães, como guardiãs, conduziam suas donzelas sãs e salvas.
Voltávamos para casa felizes e embora sentido os pés queimando-se, dentro dos sapatos Luiz XV, o coração trasbordava de felicidade. Era certo que, antes do raiar do dia, viria a serenata e com a lua por testemunha, o violão, a flauta e o bandolim, numa música bem romântica, implorando o amor da sua querida namorada.
Hoje o romantismo quase desapareceu e também as serenatas e o sentimentalismo dos anos dourados. A dança é uma verdadeira violência. Parece mais uma tremenda luta (nas boites e discotecas), os músculos se torcem e retorcem, sem nenhuma beleza.
Aquele cavalheirismo não existe mais entre os jovens (a juventude que me perdoe); há uma excessiva liberdade, uma realidade total, sem preconceitos. A feminilidade e delicadeza da mulher quase desapareceram, para dar lugar a uma constante disputa de valores. Aquela figura frágil, endeusada e paparicada pelo homem, não existe mais, se igualou na luta das competições de trabalho e posições.
Tudo isto é a evolução dos tempos, onde a Cibernética toma conta de tudo e de todos.
Não há mais lugar para uma boa leitura, para a poesia ou uma boa música. Todos correm dominados pela máquina como robôs.
Estamos vendo o homem na lua, pisando e fotografando aquela mesma lua romântica dos poetas, das serenatas, por tantos anos inatingida. Já existem ônibus espaciais navegando perfeitamente pelo espaço sideral e os mísseis de precisão matemática, assegurando a paz no mundo, através do equilíbrio das pretensões hegemônicas. Até mesmo o sentimentalismo humano, casamento, serão no futuro, controlados por computadores.
Nós, os velhos, no outono da vida, como ficaremos nesta Nova Era?
Que faremos para acompanhar esta juventude vibrante e não sermos tachados de caretas e quadrados?
O jeito é embarcarmos nesta, gemendo e chorando; e enquanto a mocidade vibra e confia no futuro, nós percebemos que o nosso fubá está medido e o nosso tempo curto... entretanto, temos a nossa consciência tranqüila, prontos para prestarmos nossas contas ao velho São Pedro, pois não temos estrutura para enfrentarmos o Terceiro Milênio, não pertencemos a geração da máquina.

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