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Mensagem: Telhado de vidroWaldyr Senna BatistaDisseram que a presença da força-tarefa da Polícia federal na prefeitura, na semana passada, teve a finalidade apenas de recolher documentos relativos à aplicação de dinheiro do Governo federal em projetos do PAC ( programa de aceleração do crescimento). Mas a sutileza de elefante que marcou a visita, que teve armamento pesado e mandado de busca e apreensão expedido pelo STF ( supremo tribunal federal), sugere que, no ar, pode haver algo mais do que urubus e aviões de carreira, pois documentos podem ser enviados pelo correio ou até por fax. E foram quase dez horas de “visita”.Certo é que muito tempo irá decorrer até que se tenha a exata dimensão do que motivou a ação indesejável da PF. Até lá, o estrago feito poderá inclusive modificar o resultado da eleição de outubro. De imediato, tudo leva a crer que muda pelo menos o discurso previsto para a campanha sucessória, que começa na próxima semana. Se antes a palavra-chave nos debates entre os candidatos seria honestidade, agora há motivos de sobra para que ela seja evitada, pois, quem tem telhado de vidro...Antes, era de se prever que o prefeito Athos Avelino iria brandir o vocábulo mágico em direção aos demais palanques, seguro que estava de que sua administração estaria a salvo de revide no mesmo diapasão. Tanto assim era que um de seus concorrentes procurou antecipar-se, mandando que um vereador, estrategicamente, em discurso na câmara, pusesse em dúvida a honestidade do prefeito, tomando por base motivo pouco relevante. E, no palanque do prefeito, as armas estariam ensarilhadas para o ataque aos adversários que deixaram rastros comprometedores quando exerceram o cargo de prefeito. O atual iria se apresentar como vestal, relatando pormenores de irregularidades que encontrou ao assumir e cuja solução, segundo ele, atrasou em dois anos a arrumação da casa para que começasse a administrar.Com a incursão da PF nos arquivos municipais, o telhado de vidro estendeu-se também sobre a atual administração. A previsão é de que o prefeito-candidato dificilmente conseguirá livrar-se a tempo da situação incômoda, porque a elucidação da questão não acontecerá antes da eleição. E se em campanha eleitoral vale tudo, até inventar o que não existe, para desgastar o adversário, quando no jogo aparece polícia federal empunhando armas e ocupando o prédio da prefeitura acobertada por mandado expedido pela mais alta corte do país, aí então, para os adversários, é sopa no mel.Na nota oficial que divulgou após a retirada dos policiais, a prefeitura declarou que atua em completa transparência e nada tem a esconder. Sem entrar em detalhes, pois não é esse o objetivo de nenhuma nota oficial. Sabe-se, porém, que a vinda da PF a Montes Claros estaria ligada a suspeita de irregularidade na aplicação de verba de R$ 5 milhões constante do orçamento da Codevasf, destinada à drenagem do córrego Bicano, entre os bairros Ciro dos Anjos e Chiquinho Guimarães, localizados na região mais pobre da cidade. A obra foi incluída no PAC e integra o projeto da estação de tratamento de esgotos que está sendo realizada com intensa publicidade da prefeitura. O chefe da Codevasf informou que já foram entregues ao município R$ 2,5 milhões para execução do serviço, mas a prefeitura declarou que os projetos integrantes do PAC ainda não foram iniciados.O jornal Estado de Minas, de Belo Horizonte, identificou na origem do problema os deputados João Magalhães( PMDB ) e Ademir Camilo (PDT), que atuam na região de Governador Valadares, presentes em outras denúncias de má aplicação de dinheiro público. A PF entrou no gabinete do primeiro, em Brasília, no curso da mesma operação João de barro, também à procura de documentos.(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).
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