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Mensagem: ACONTECEU EM MONTE AZULJOSÉ PRATES “E a autenticidade das lembranças nos leva a quase poder ver determinada cena, sentir um perfume, ou tocar uma rosa de uma praça que só existe em nossa saudade”, diz Ruth O.N. Rodrigues em sua belíssima crônica. Aqueles momentos do passado nós os vivemos quando afloram à memória, trazidos pela saudade. Não é raro acontecer. Quanto maior é a idade, mais freqüentes são as imagens do passado que saem do recôndito da mente, projetando-se no consciente, nos fazendo reviver momentos felizes, aliviando as dores da velhice. Nessa lembrança, podemos “tocar uma rosa de uma praça”, como fiz há muitos anos passados, mil novecentos e quarenta e cinco, na pracinha florida de Monte Azul, sentado no banco tosco, em frente ao hotel, único da cidade, assistindo ao “footing” das mocinhas sorridentes, em cochijos e segredinhos. Acabava de completar dezoito anos e estava assumindo meu primeiro emprego formal, como radiotelegrafista, na construção da estrada de ferro. A cidade era pequena, todo mundo conhecia todo mundo e todo mundo vivia feliz. A cidade tinha um homem, espécie de dono, a quem todo mundo respeitava e obedecia: chamava-se Levi de Souza e Silva, conhecido por Coronel Levi. Quando cheguei para assumir o cargo, ele não estava na cidade, estava em Belo Horizonte tratando de assuntos do município. O seu regresso foi apoteótico. O pequeno monomotor que o trouxe, sobrevoou o centro da cidade lançando folhetos, enquanto o povo reunido na praça dava brados de “vivas” e foguetes espocavam no ar. O aviãozinho aterrisou no pequeno aeroporto de Barreiro, bem próximo à cidade. De lá ao centro, o esperado personagem veio em carreata composta dos poucos carros que lá existiam. Quando chegou, fui apresentado a ele como o radiotelegrafista da estrada de ferro. Na minha ingenuidade, eu me sentia importante como operador do telegrafo sem fio, novidade que a cidade via pela primeira vez. Apertou-me a mão sem entusiasmo, porque me “achou com cara de menino”, como disse depois. Por isso, a minha primeira impressão não foi muito boa. Ao tomar parte, porém, na roda de prosa, na calçada da casa onde estava alojado o Tenente Aderbal, aos poucos fui conhecendo o Cel Levi. Não era o bicho papão de que falavam nem o homem que mandava matar o adversário como dizia a oposição. Era um líder que exercia a liderança com autoridade, sem permitir que os interesses da comunidade fossem feridos. O país vivia em regime ditatorial e ele tinha boas relações com altos mandatários do Estado e isto lhe dava autoridade no exercício da liderança de seu povo. Só isto. O acontecimento de maior importância que a chegada do Cel Levi, foi poucos meses depois, a aterrizagem forçada de um avião da Força Aérea Brasileira, um tipo “north american”, de adestramento, que ocorreu numa aérea de pastagem, próxima à estação do trem, ainda em construção. O ronco da aeronave sobrevoando a cidade trouxe todo mundo pra rua, olhando para o céu, acompanhando as manobras do avião, voando quase rente aos telhados. Enquanto isto, na estação rádio, eu tentava contacto com a aeronave, sem resultados. Ouvi então, um grande barulho. Sai correndo da estação e vi o aparelho capotado na pastagem, a uns duzentos metros da estação. Todo mundo correu para lá. Fui o primeiro a chegar. Lá estava um homem uniformizado, de cócoras, debaixo do avião e outro dependurado, preso da fuselagem, pedindo que lhe tirassem dali. De cócoras, era um sargento, passageiro, que não sofreu, sequer, um arranhão; dependurado na fuselagem, o tenente aviador que sofreu algumas lesões. Foi levado para a casa do Cel Levi, onde foi hospedado, ficando aos cuidados do único médico da cidade, noivo da filha do Coronel. A mim, coube comunicar pelo rádio o acidente, detalhando o ocorrido e me podo à disposição para orientar as aeronaves que viessem em socorro. O que, foi feito com sucesso. Deixei Monte Azul dois anos depois para apresentar-me ao Exército, como convocado. O trem já circulava e foi de trem que eu sai de lá. (José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal, percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a família. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente adido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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