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Mensagem: PaixãoDom José Alberto MouraÀs vezes nos deparamos com termos de linguagem usual de significados diferentes. Paixão é um deles. Pode significar sofrimento, até martírio, grande afeto ou sentimento... Pode levar ao extremo de loucura quando não equilibrada com a razão. Por outro lado, a compaixão faz a pessoa condoer-se com a realidade do outro, que está sofrendo, a ponto de se colocar a seu lado para ajudar a amenizar sua dor. Jesus é o grande exemplo de doação total de si, mesmo passando pela paixão, justamente porque teve compaixão do povo sofrido. Afeiçoou-se por nós, levando a efeito a causa que o Pai lhe deu de nos dar condição de salvação e regeneração. Ele veio trazer vida abundante para todos, mesmo passando pelo martírio.A compaixão em relação ao povo sofredor faz o Mestre ensinar aos discípulos a partilha, o verdadeiro milagre da multiplicação do pão e o serviço aos necessitados. Depois de um dia extenuante para o povo seguidor de Jesus, os discípulos pediram para Ele dizer ao povo ir embora e comer em suas casas. Mas o Senhor falou para os mesmos darem comida ao povo. Aconteceu o milagre da multiplicação dos pães e peixes (conferir em Mt 14, 15-21). Sem compaixão, o ser humano se volta para si de modo altamente egoísta. É pouco solidário. Cai na tentação do ter de modo insaciável, não dando a mão ao semelhante. Usa o poder, inclusive o político, para busca de vantagens de modo abusivo e anti-humano. As injustiças acontecem. O outro não tem vez. As exclusões mostram o desatino ou a insensatez de quem só vê a felicidade dentro das regras do consumismo. Quem tem mais dinheiro, nessa ótica, compra tudo.O profeta Isaías fala em outra ótica. `Ó vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite sem nenhuma paga` (Is 55, 1). É justamente essa a perspectiva e a prática de Jesus. A solidariedade, a grandeza de caráter, o compromisso com o bem do semelhante, principalmente com o desclassificado financeira e socialmente, são virtudes baseadas na compaixão do Mestre. Nova ordem social advém com a aceitação do ensinamento ou a Boa-Nova d`Ele. O amor, vivido na perspectiva da paixão ou da grande comiseração pelo semelhante, leva a pessoa a doar-se pela promoção do bem do outro, sem buscar vantagens materiais ou de posição social avantajada. A satisfação com isso se dá justamente no crescimento da grandeza de alma e de um amor muito grande a Deus. Por Ele, a pessoa é capaz de oferecer seu tempo, seu sacrifício e até sua vida para beneficiar o semelhante necessitado.A paixão colocada no serviço de amor desinteressado ao próximo torna a pessoa vivaz e realizada humanamente pelo ideal de fazer o bem. Só o dinheiro, a fama e os prazeres não tornam a pessoa realizada, apesar de sua ostentação e até orgulho de se sentir superior aos outros. Jesus nos prova quem é o maior. O que mais serve com amor o semelhante, por amor a Deus, torna-se pessoa de grandeza incomensurável. Com o Apóstolo Paulo compreendemos, então, que a pessoa de grandeza moral, apaixonada pela causa do bem do outro, não se deixa abater pelas dificuldades. `Irmãos, quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? Em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou!` (Rom 8, 35.37).(Dom José Alberto Moura, 64 anos, da Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo (CSS), é Arcebispo Metropolitano de Montes Claros (Norte de Minas Gerais), Presidente da Comissão Episcopal Pastoral (CEP) para o Diálogo Ecumênico e Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e primeiro Vice-Presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic).
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