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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Os que escrevem

Manoel Hygino

Sublime e insidiosa patologia: escrever. Enfermidade congênita, de que não se consegue fugir. Meu amigo Abílio Machado Filho lia sempre, todos os dias, os livros eram seus amigos, como sugerira Eduardo Frieiro. Olhar distante, assistia o alvorecer, volume ao lado.
Há pouco, li aqui o artigo de Emanuel Medeiros Vieira, o excelente autor da Santa Catarina: ‘Começamos escrevendo para viver e acabamos escrevendo para não morrer. Para quem edifica palavras, mal rompe a autora, escrever é inadiável e urgente, mesmo que nada externamente nos obrigue. Mas a necessidade interna é visceral, orgânica, chama e fogo, flecha, algo colado à pele. A literatura é um apelo de fogo, onde mora meu desespero, a minha inquietação e o meu paraíso, escreveu alguém‘.
Escrever é preciso. Duas vezes Prêmio Esso, Paulo Narciso ama a profissão de repórter: ‘Gosto muito. Há notícia por toda parte, esperando quem as colha, feito margaridas‘. Enquanto não é repórter de tempo integral viaja.
Outro dia, foi ver um rio, que saindo da terra de Ayres e Edgar da Matta Machado irriga uma propriedade sua, com seus 100 metros de largura e areias brancas, de presépio. Fica em Augusto de Lima e se chama Pardo Grande. Ilustre desconhecido de nossa civilização, mas soberbo. ‘É nossa maravilha escondida. Caso contrário, acham um jeito de matá-lo‘.
Os que escrevem, por isto nascem. Os poetas nascem poetas, afirmava-se no tempo de Bilac, Alberto de Oliveira e outros fazedores de versos que enterneceram a elite do século XIX. Prosadores são assim também, qualquer que o gênero.
Henrique Chagas, que residiu em Belo Horizonte e edita um excelente site cultural no estado de São Paulo, me envia notícias de si: ‘Acordei cedo, ainda estava na cama quando desejei caminhar pelo deserto, como faz diariamente o escritor Amós Oz, apenas para captar as vozes. Diz ele que as vozes do deserto são pratos regalados para a sua escrita.‘
Medito, como concluiu a vida terrena Abílio, ao amanhecer do sábado, que o levou consigo: ‘Gostaria, mas eu não ouço as vozes do deserto, nunca as ouvi; mas procuro ouvir as vozes do vento, aprecio dias de ventania, pois o vento carrega o som do primeiro dia da existência. Procuro ouvir aquele vento que pairou sobre as águas no momento da criação do mundo.”
Quase sempre os que escrevemos, mesmo os menos aptos e tangidos por forças misteriosas, tentamos pretensiosamente talvez compor um hino à palavra, como observou, Emanuel Medeiros Vieira. Não sem razão, Samuel Titan Jr., lembrando Borges, comentou: ‘Se o mundo dos objetos palpáveis e vida prática não é mais real que o mundo das ficções, dos sonhos e dos labirintos, e então pode ser que o autor de artifícios verbais tenha mais direito à condição de demiurgo que qualquer outro candidato.‘
Comento seguidamente sobre o poder das palavras, que servem ao bem e ao mal. A repetição em Shakespeare adverte para sua importância: Palavras, palavras, palavras. A do sacerdote no altar, a dos parlamentares na tribuna, a dos candidatos nos comícios. Toda a humanidade passa por ela. No princípio, era o verbo.
Tudo pode depender dela. Na declaração de guerra ou nos acordos de paz. Paz? Uma simples palavras de três letras, de suma significância. Precisamos fazê-la valer. No livro que se lê, no rádio que se ouve, na televisão a cuja novela se assiste ou com cujo noticiário se tem o mundo à mão: Palavra.
A verdade, a mentira, o engodo, estão nas palavras. Mas a humanidade precisa de paz, e ela decorre também da palavra, do diálogo, da confiança.

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