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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: A vida vária de Godô

Manoel Hygino

No Palácio das Artes, homenageou-se, em agosto passado, Godofredo Guedes pelo seu centenário de nascimento. Nada tão justo. Nascido em Riacho de Santana, Bahia, Godofredo desceu para Minas Gerais e, em Montes Claros, construiu sua múltipla carreira. Além de intérprete instrumental, dedicava-se a outras atividades.
Desde que no campo das artes, dava-se bem. Fotógrafo e pintor, tem criações de grande expressão, expostas em casas de famílias e galerias. Fabricante de instrumentos musicais. Foi compositor de notadas virtudes, além de letrista de reconhecidas qualidades.
Cantores populares no Brasil cantam e tocam a música de GG, iniciais com que assinava seus quadros. Mas o nome do autor quase sempre ficava obscurecido pelo prestígio do intérprete.
Há os que cantam a ‘Ave Maria‘, sem saber que o compositor é Gounod. Como há os que apreciam ‘Serra da Boa Esperança‘, ignorando que o autor da letra e da música foi o alegre Lamartine Babo.
Viver de arte, principalmente no interior brasileiro, não é fácil. Mas Godofredo Guedes persistiu, abstendo-se de atender a insinuantes convites das capitais do Sudeste. Mesmo tendo de desdobrar-se em múltipla atividade, inclusive tocando saxofone à noite no Clube Minas Gerais, que a população conhecia como ‘o cassino‘.
O advogado e escritor Haroldo Lívio lembra que houve época em que GG se dedicava à música das dez da noite às cinco da manhã. ‘Tocava tanto no fidalgo Clube Montes Claros como nos cabarés afamados da zona boêmia, dos quais o romancista carioca Marques Rebello disse que ferviam como night- clubs da Broadway‘.
Em determinado período da vida, Godofredo achou que melhor seria ir para Belo Horizonte, depois de 27 anos em Montes Claros. O próprio Haroldo Lívio, em crônica na imprensa local há 45 anos, lastimava a partida. Porque o artista já era considerado um bem público de uso comum do povo, como a Praça da Matriz ou a capela dos Morrinhos, que cantara e decantara em telas famosas.
GG foi múltiplo, de fato. Para sobreviver aprendeu prática de farmácia, com um parente, um médico baiano diplomado em Paris. Imagine-se o menino de Riacho de Santana estudando nos livros de Química, escritos em francês. Não se acomodou ou intimidou. Também a ler, entender e trabalhar, sem professor, no idioma que consagrou Balzac, Dumas e Victor Hugo.
Nada o impedia de cumprir o itinerário de sonhos que se traçara e que esplendia em música e em telas. Enquanto não fazia algum dinheiro na pintura de paredes, em quadros a óleo, na interpretação de músicas, suas e alheias, ao violão, saxofone e clarineta, descansava.
Descansou, confeccionando uma marimba mexicana e um piano, ele que não era tocador do instrumento. Talvez os filhos, entre os quais Beto, e os netos, algum dia, se voltassem para aquela rara peça, que imortalizara Chopin. O prognóstico não funcionou. A descendência preferiu outros meios musicais de comunicação, de preferência o violão.
Agora que os dias escorregaram na folhagem do tempo, parece que toda esta reminiscência é inverídica. Que Godofredo sequer existiu. Mas existiu, sim. Tanto que faz cem anos que nasceu.

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