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Mensagem: Cidade Magia Dia 02.09.08, li no jornal “Hoje em Dia” uma crônica do ótimo Tião Martins, com o título “Além da Festa I” em que ele ressalta o privilégio de nascer em Montes Claros, ou da vontade de ter nascido ou vivido em Montes Claros. “Continua escrevendo que Montes Claros é surpreendente pela paixão sem limites que mobiliza pessoas nascidas naquela cidade de elevadas temperaturas tanto na rua quanto no coração do povo”. A crônica fala de um encontro em novembro de uma geração sexagenária. Depois deste preâmbulo, confirmei na tarde desse mesmo dia a verdade dessas assertivas. Tomei um táxi em companhia de Cida Maia e Ana Eulina, esta, agregada muito querida às meninas de Montes Claros, para irmos ao aniversário de uma amiga. Calor de matar, umidade de clima de deserto e para completar trânsito engarrafado. Para passar o tempo comentávamos que só com a paciência de um monge Zem budista não iríamos nos estressar. O taxista, muito gentil e educado, pediu licença e participou da conversa, dizendo que tinha passado uma semana no interior a 500 Km de Belo Horizonte e tinha regressado com a energia renovada, apto a enfrentar o trânsito caótico da cidade. Cida perguntou-lhe aonde tinha ido, e ele respondeu: Capitão Enéas, no norte de Minas, onde um cunhado tinha um terreno. Na volta passou em Montes Claros para matar a saudade e fazer compras no Mercado Municipal. Era natural de Montes Claros. Identificamo-nos como Montesclarenses e foi uma alegria só! Esquecemos o calor, a baixa umidade do ar e o engarrafamento do trânsito. Este se apresentou como João Oliveira, mora aqui em Belo Horizonte há 38 anos. Veio para educar os filhos os quais, hoje, são todos formados e bem estruturados na vida, e daqui a dois anos irá se aposentar e voltar para o seu rincão. Naquele momento, como num passe de mágica, um fio invisível nos uniu numa conversa animada e alegre. Acredito que o Montesclarense traz no DNA o perfume do Pequi, e desencadeia um clima que abre o coração e alma ao encontrar um dos nossos. Ele nos falou da fartura do Mercado Municipal e que trouxe tudo de bom que lá encontrou: Carne de Sol, Pequi (congelado), requeijão, queijo curado, andu, farinha do Morro Alto, beiju, cachaça, marmelada de São João do Paraíso, geléia de mocotó, maxixe etc... Cida Maia, excelente gourmet e também gourmand – cozinha divinamente – começou a trocar receitas com nosso taxista. A conversa cada vez mais animada, o trânsito cada vez mais parado e nós cada vez mais falantes, tirando da memória afetiva os cheiros, os sabores e as cores do sertão. Naquele instante fechei os olhos e num mergulho transitei pelas ruas, algumas calçadas, outras poeirentas, fiz curvas que ficaram registradas no meu ser. Montes Claros de minha infância era uma cidade provinciana, uma cidade muito humana em que um parava o outro na rua e dizia: Passa mais tarde lá em casa para um café, se abraçava e se dava as mãos. A cidade cresceu, é um pólo irradiador do progresso, um grande centro universitário, mas acredito que a proximidade continua através das gerações, dos amigos dos amigos. Mantêm com orgulho sua cultura regional e cultiva a disponibilidade em tocar o outro. “Seu” João acalenta o sonho de retornar à Terra Natal. Está encantado com os novos bairros, as largas avenidas, mas tem uma reclamação a fazer: o descaso da municipalidade com a arborização da cidade. Praças antigas viraram cimentódromos como a Praça Dr. Carlos, e está preocupado com o que vão fazer com a Praça Dr. Chaves, onde namorou e viveu ternos momentos com sua hoje esposa. Chegamos ao nosso destino. Saímos daquele táxi com uma saudade danada daquela cidade sertaneja, cercada pelos Montes Claros, e daquela gente que tem uma característica gastronômica peculiar e que tem como ritual realizar-se em torno de uma farta mesa. Nesta mesa, com todos os aromas e sabores da cidade, namora-se, joga-se conversa fora, fecham-se negócios, trocam-se receitas. Uma saudade danada de uma gente chegada a serestas, poesias, festas de Agosto, lua cheia e amizade! Um orgulho de encontros da prosa e do verso, de um sem número de artistas das letras da música, das danças folclóricas. Inspiração de Cyro dos Anjos, Darcy Ribeiro, Hermes de Paula, de Candido Canela e João Chaves. Carmen Netto Victória Set/2008
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