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Mensagem: A arte de engolir saposWaldyr Senna BatistaO fato político mais importante na eleição de Montes Claros não foi a definição dos dois candidatos que irão ao segundo turno para a escolha do novo prefeito. Não houve surpresa. Surpreendente foi a guilhotina eleitoral, que decepou cabeças na Câmara municipal. Atribuir isso apenas à suposta exploração eleitoral da “operação pombo correio” é descabido. Na verdade, o eleitor mostrou que se cansou da atual Câmara, com seus diplomas, medalhas e demais condecorações. Agiu movido pela somatória de erros dos vereadores, que relegaram sua função de legislar, recaindo a insatisfação sobre alguns dos envolvidos no inquérito da Polícia Federal.Quanto ao segundo turno da eleição de prefeito, embora cheguem a incomodar aos menos versados, seguem os manuais as tratativas em curso visando a recomposição de forças. Ou política não seria “a arte de engolir sapos”. Para os que militam no ramo, há estômago para batráquios de todos os tipos e tamanhos, não importando a gravidade das ofensas trocadas, agora ou no passado. Tudo é digerido e expelido, que se danem os ingênuos que têm boa memória e alguma afinidade com personagens que, há uma semana, se engalfinhavam nos palanques e nos debates televisivos, e já se preparam para a troca de afagos. Coerência não é o forte dos políticos. Nesses conciliábulos, o anúncio de novos apoios é importante, pois é preciso mostrar força na reabertura da campanha. Não significando que, pelo simples fato de anunciar a adesão de antigos adversários, os correligionários destes os acompanharão cegamente. Isso se deu aqui mesmo em Montes Claros, principalmente na eleição anterior, em que acordos de gabinete, até com o aval do governador do Estado, foram repelidos pelas bases, levando à derrota do candidato tido e havido como favorito.No cenário atual, a diferença de votos entre Tadeu e Athos corresponde a praticamente o total da votação obtida por Rui. Teoricamente, a adesão deste ao segundo colocado poderia inverter o resultado. Na prática, porém, essa mudança quase nunca corresponde à transposição total de votos, porque são raríssimos os políticos que têm esse poder. De forma que, ao negociar apoio, Rui não poderá garantir votos que não lhe pertencem.A adesão já anunciada de Jairo Ataíde a Tadeu terá, certamente, o mesmo efeito incerto e não sabido, com a agravante de que, durante mais de quinze anos, o grupo do candidato do PMDB promoveu a execração pública do hoje presidente do DEM, com agressões, galhofas e ironias. Por isso, aos olhos dos menos avisados, os dois jamais se sentariam à mesma mesa, nem por decreto, e, no entanto, aí estão perto de se abraçarem.Segundo turno de eleição majoritária propicia essas alianças surpreendentes, que deveriam ser entendidas como gesto civilizado, estágio que a cultura política brasileira ainda não assimilou. Principalmente em cidades como Montes Claros, em que as disputas realizam-se em termos candentes, deixando seqüelas. Quando esse tipo de união se dá, quase sempre levanta suspeitos de que envolveria troca de vantagens, materiais ou de compromissos com vistas a eleições futuras ou participação na equipe de governo.O certo é que a saída de Jairo tem como conseqüência perda de força do grupo de Rui, o que fará diferença nas negociações em curso. A presunção imediata é de que, ainda que Rui confirme seu apoio a Athos, não há como negar que a este ficou mais difícil tentar reduzir a diferença de votos que o separa do seu concorrente nesta etapa da disputa.Embora não haja ainda notícia quanto ao ponto em que se encontram as conversas entre Athos e Rui, tudo faz supor que os dois firmarão acordo, que poderá ser anunciado na segunda-feira.Unir-se a Athos parece ser o caminho mais conveniente a Rui. O atual prefeito, se reeleito, não poderá concorrer em 2012, quando certamente Rui disputará de novo. E não lhe convém ter Tadeu como adversário, tendo nas mãos a máquina administrativa, que ele sempre soube usar eleitoralmente.(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).
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