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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 18 de setembro de 2024
 

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Mensagem: PAULO NARCISO E SEUS “RECUERDOS” José Prates É difícil, muito difícil, ler relatos como o de Paulo Narciso, que ele chamou de “recuerdos”, sem mergulhar no passado, revivendo passagens que nos marcaram na vida. Infelizmente, não conheci Paulo como repórter do antológico O Jornal de Montes Claros que comigo e Zezinho Fonseca, marcou o inicio da imprensa de fato em Montes Claros. Eu era um jovem de 22 anos, iniciando no jornalismo, cheio de sonhos e fantasias próprias dos jovens sonhadores que imaginam a conquista de um mundo de glórias. E foi embalando esses sonhos e vivendo fantasias, que inaugurei na recém nascida imprensa montesclarense, as reportagens de rua que deram ao jornal a popularidade que passamos ao Dr. Oswaldo e ele a manteve até o fim. Quando Paulo Narciso chegou, na época de Wanderlino e Waldyr Sena, eu já estava fora, sofrendo os rigores da ditadura no Rio de Janeiro, sem conseguir lugar em nenhum jornal da época, porque na minha ficha no DOPS constava o estigma COMUNISTA, posto em letras vermelhas. Alguns períodos que Paulo cita em seu “recuerdo”, nos anos negros da ditadura, eu, também, os vivi em lugares diferentes e maneiras um pouco diferentes das suas. Os sonhos e as fantasias nunca me abandonaram e foi embalado pelos sonhos e vivendo fantasias que ao lado de alguns companheiros ferroviários, jovens naquela época, mergulhei na “contra revolução” e juntos sofremos as conseqüências da luta que travamos na busca do que sonhávamos para o Brasil. Em junho de 1966 fui preso, quando trabalhava na Estação Rádiotelegráfica da Estrada de Ferro Central do Brasil, acusado de transmitir mensagens subversivas para toda Estrada de Ferro. Cinco dias depois fui solto e removido para a Estação Ferroviária Marítima, no cais do porto, onde fiquei isolado, proibido de contato com o público. Depois fui transferido para Japeri, lugar distante, duas horas do Rio, proibido de contato com o publico. Amarguei um isolamento, sem constar da lista de promoções o que permitiu que me aposentasse antes do tempo, na carreira inicial. Somente em 1979, setembro, quando veio a anistia encontrando-me já formado, livrei-me teoricamente do estigma, porque a sensação de insegurança demorou a desaparecer. Fiz prova para a Marinha Mercante e depois de um ano no curso de adaptação naval, aprovado ao final, fui declarado oficial apto para embarque o que aconteceu logo em seguida. Paulo Narciso falou na homenagem que os estudantes montesclarenses, formandos em direito, prestaram ao ilustre mineiro Heráclito Fontoura Sobral Pinto, mineiro de Barbacena, defensor dos direitos humanos, especialmente durante o Estado Novo e a ditadura militar de 1964. Homenagem merecida pelo curriculum vitae cheio de humanidade que o homenageado apresentou. Criminalista que se notabilizou na defesa dos perseguidos políticos. Mesmo sendo católico praticante, depois do levante comunista de 1935, prontificou-se a defender Luiz Carlos Prestes e depois, o alemão Harry Berger para quem, num fato inusitado, invocou a lei de proteção aos animais. Recusou o Ministério da Justiça no governo Juscelino para que não supusessem que sua defesa da posse do presidente tivesse sido feita por interesses pessoais. Outro fato que marcou o caráter e o interesse do Dr. Sobral Pinto na defesa dos direitos humanos, foi o caso dos nove chineses que se encontravam numa missão comercial no Brasil a convite do presidente João Goulart. Com o golpe de 64, os chineses foram presos sob a acusação de prepararem uma rebelião de caráter bolchevista no país. Durante o processo, Sobral fazia questão de visitá-los no cárcere, prestando, além da assistência jurídica, um trabalho de cunho social. Até hoje o governo da China mantém contato com sua família, em agradecimento aos serviços prestados pelo advogado, que conseguiu a expulsão dos agentes, única vitória possível num estado de exceção. Eu conheci pessoalmente o dr. Sobral Pinto, não me lembro bem o ano, mas deve ter sido 1977 ou 78 quando estudava direito na Faculdade Candido Mendes e estava inscrito na OAB como estagiário. O encontro foi casual, nos corredores do Forum. Eu estava procurando uma determinada Vara Civel e não a encontrava. Vi aquele senhor elegante que vinha em minha direção. Quando nos aproximamos eu o cumprimentei e perguntei a localização da vara. Ele, gentilmente, prontificou-se a levar-me até lá. Ao nos despedir, ele se me apresentou declinando seu nome. Fui tomado de grande emoção. Nessa época eu contava 51 ou 52 anos de idade o que lhe causou surpresa pela minha disposição naquela idade, de estar numa faculdade, ainda estudando. Hoje, o retrato do Dr. Sobral Pinto está encimado na parede de minha sala de trabalho, como singela homenagem que lhe prestamos. (José Prates, 81 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros de 1945 a 1958 quando foi removido para o Rio de Janeiro onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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