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Mensagem: Bolsa eleitoral Waldyr Senna Batista A manchete de jornal informa: “Bolsa Família diminuiu em Montes Claros”. E o texto cita números: nos últimos 12 meses, a redução foi de 4 mil pessoas, sendo 1,5 mil só no mês de dezembro; no momento, 16 mil pessoas recebem aqui o benefício; e há cerca de 22 mil na fila de espera, que não andou, apesar da redução registrada. Criado no governo Fernando Henrique Cardoso em moldes quase artesanais, sob a denominação de Bolsa Escola, o programa teve seu raio de ação amplificado em escala industrial no governo Lula, ganhando conotação claramente eleitoral. Daí estranhar-se que, em plena arrancada da eleição, ele esteja encolhendo na cidade, o que só seria compreensível no caso de haver alcançado a redução dos níveis de pobreza que teoricamente seria sua meta. Não é o caso, e o texto logo esclarece que a redução do número de participantes decorre da falta de atualização de dados cadastrais. No início do atual governo, a médica Zilda Arns, morta no terremoto do Haiti, foi chamada a participar da implantação do programa. Sua credibilidade e seu renome internacional dariam força ao programa, não tivesse ele destinação totalmente distorcida. Citada pelo Frei Beto, em artigo publicado na semana passada, a doutora Zilda Arns temia que o Bolsa Família priorizasse a mera transferência de renda, submetendo-se à orientação que propõe tratar a pobreza com políticas compensatórias, sem tocar nas estruturas que promovem e asseguram a desigualdade social. Em razão disso, segundo o autor do artigo, ela se afastou, mas ele ressalva que o ministro Patrus Ananias conseguiu aprimorar o Bolsa Família e melhorar o índice de redução da miséria absoluta no País, conforme dados recentes. “Falta encontrar a porta de saída aos beneficiários, de modo a produzirem a própria renda” – conclui Frei Beto. Era esse o ponto que a manchete do jornal dava a entender, quando na verdade a matéria apenas lamentava que o programa encolhesse, mesmo com tanta gente na fila de espera. O próprio ministro encarregado do setor colocou as coisas nos devidos termos, ao afirmar que o “Bolsa Família é válido para quem se encaixa no perfil, ou seja, não deve existir lista de espera”. O ministro sabe do que está falando, e Montes Claros constitui exemplo eloquente. Na reeleição do presidente Lula da Silva ,em 2006, de cada quatro votos apurados aqui, no segundo turno, três foram dados ao candidato do PT. Índice semelhante ao registrado no Nordeste, a que Montes Claros se assemelha em muitos aspectos negativos. Com PIB “per-capita/ano” de R$ 7.511,03 e índice IDH de 0,784, a cidade-líder da região se coloca como dependente dos programas assistencialistas patrocinados pelo atual governo. A imprensa nacional tem dado destaque ao pacote de benesses que o governo federal preparou para o ano eleitoral: aumento das aposentadorias, salário-mínimo com reajuste de mais de 10%, seguro-desemprego elevado em 9,67%, revisão de remunerações no serviço público com novas contratações e admissão de pelo menos 500 mil beneficiários no Bolsa Família. Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) confirma a influência do Bolsa Família no segundo turno da eleição de 2006, a favor de Lula. E já que ele não é candidato em 2010, a curiosidade é quanto à sua capacidade de transferência de votos para a candidata Dilma Roussef, praticamente desconhecida nos grotões que decidem as eleições. O precedente remoto vem de São Paulo, onde o então prefeito Paulo Maluf lançou o desconhecido Celso Pitta à sua sucessão, garantindo aos incrédulos que tinha força suficiente para eleger até um poste. E elegeu. O inverso se deu na semana passada, no Chile, onde se alternam há vinte anos governos de centro-esquerda. A presidente Michelle Bachelet, com avaliação positiva de 80%, teve seu candidato, Eduardo Frei, derrotado por Sebastian Piñera, de centro-direita. Aqui, Lula, cujo governo tem aprovação também de 80%, não faz referência nem ao poste nem ao Chile, mas não deixa dúvidas de que queimará todos os cartuchos para a eleição de sua candidata. Para isso, agita a Bolsa Família como bandeira. (Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil)
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