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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 8 de maio de 2024
 

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Mensagem: Perdendo as raízes Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´ O sepultamento foi em 9 de fevereiro, no Parque dos Pinheiros. Na maior cidade do país, José Ramiro Sobrinho silenciou de vez a voz para juntar-se à do irmão, Xavantinho, que formavam uma autêntica dupla de música caipira do Brasil. Pena Branca tinha 70 anos e sofreu um infarto em casa e, levado ao hospital, não resistiu. O duo iniciou carreira em 1961, para sofrer a primeira baixa quando o mano, em 1999 morreu. O remanescente seguiu a caminhada, conquistando o prêmio ´Grammy Latino´, por ´Semente caipira´, em 2001, pela gravação da música idealizada por Xavantinho. Pena Branca fez-se conhecido pelas letras simples que cantava, interpretadas unicamente pelo violão, amigo de coração desde a tenra idade. Era um homem simples, que não se fez acompanhar, como hoje de grandes orquestras, que despertam o entusiasmo e levam ao delírio multidões. Tinha efetivamente semente caipira e soube zelar por ela, após germinar e florir a criatividade. O cantor fazia o gênero modesto e simples dos fundos de mercados de outros tempos. Não silenciou sua música nem a morte do irmão, após viverem a época áurea da verdadeira música caipira, que passou a ´sertaneja´, mas perdeu sua originalidade. A velha linha de criação passou a ser chamada de ´música de raiz´, pouco ou nada tendo a ver com o que hoje é sucesso. As antigas duplas, que foram expoentes no rádio, não são mais do que reminiscência ou saudade. Alvarenga e Ranchinho, Jararaca e Ratinho, Xerém e Bentinho, Tonico e Tinoco e, como lembrou recentemente o professor de Direito Antônio Álvares da Silva, Chico Mulato e Florêncio, Serrinha com Caboclinho e Zé do Rancho, e outros que tiveram sucesso regional. Não sem razão, Álvares comentou: ´Depois, a partir dos anos 70, a música sertaneja clássica começou a perder fôlego. Os tempos mudaram e a arte, que acompanha o homem em seu perfil histórico também se transformou. O trator passou por cima de tudo derrubando árvores, florestas e também tradições que ainda restavam. Shows ruidosos, palcos iluminados, sofisticação técnica e barulhenta tomaram conta da música popular e não deixaram mais espaço para a sertaneja verdadeira. Tudo caiu no esquecimento e no passado´. Os tempos são outros. Não satisfaz mais as novas gerações o tom coloquial, às vezes quase sussurradas as letras de velhas cantorias. Desgarraram-se da terra as raízes. Hoje canta-se para as multidões, custando muito dinheiro e propaganda, os alto-falantes em elevado volume, a explosão de gente ruidosa, excessos que terminam às vezes nas delegacias de polícia. A velha música sertaneja, ou caipira, ou de raiz cedeu espaço de vez às novas modas e costumes. Como os chorões, com suas flautas, bandolins, violões, clarinetas e cavaquinhos, tocando valsas inesquecíveis, seresteiros inveterados cantando modinhas sentimentais, que provocavam suspiros fundos e dolorosos nas donzelas românticas, que madrugavam para o amor. Enquanto nas horas indormidas da noite, os seresteiros entoavam as letras, molhando-as com a voz do pranto, nos mistérios da noite cheia de encantamento e de luar, os trabalhadores do campo que iam vender seus produtos no mercado, esperavam o dia clarear e a chegada da clientela, com amáveis versos de amor, inspiração perene de todas as pessoas e lugares. Com o decorrer dos anos, tudo se transformou em passado. O silêncio caiu pesado, deixando nos corações uma saudade doída, desabando como chumbo em nossa memória, enquanto as músicas sucessoras aguçam irrefreavelmente a mocidade, que vê nos novos cantores, ritmos e orquestras sinais de progresso. Antônio Álvares observa que os ritmos, a viola, a temática rural simplesmente acabaram. São apenas cantores agora a dois de música popular. De sertanejos e antigos, nada têm. ´Que a viola volte rápido e seja tocada por nossa mocidade, nas escolas, teatros e eventos populares. E que traga, nos seus acordes ternos, a marcada de um sertão que precisamos fazer ressurgir. A viola há de fazer na música o que Guimarães Rosa fez na prosa, tornar eternas, pela arte, as coisas boas que nunca podem morrer´.

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