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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Rotilio Manduca O coronelismo, como se extrai de Vitor Nunes Leal, foi a primeira obra importante da moderna sociologia política brasileira. O coronel Joaquim Gomes de Ornelas inspirou o personagem Josafá Jumiro Ornelas, de Guimarães Rosa, em “Grande Sertão: Veredas”. Por outra via, endossada pelo antropólogo Saul Martins, Zé Bebelo, personagem do mesmo livro, é a encarnação de Rotílio Manduca. Mas, quem foi o personagem que no livro “Grande Sertão: Veredas” ganhou o nome de Zé Bebelo? Rotílio de Souza Manduca está a merecer maiores pesquisas e melhores estudos sobre sua vida nos sertões de Minas Gerais. Saul Martins, no seu livro “Antônio Dó”, nos oferta duas fotografias autênticas, que identificam o homem, mas não retratam sua personalidade. De uma das fotografias extrai-se, pelo uniforme, que ele foi oficial comissionado da Polícia Militar de Minas Gerais. Ainda segundo Saul Martins, Rotílio Manduca nasceu em 1885, em Remanso, na Bahia, cidade hoje submersa pelas águas da represa de Sobradinho. Lá estudou e tornou-se um autodidata. Ele era filho do casal José Bertoldo Manduca e Inácia de Loiola Manduca. Quando pesquisava sobre Antônio Dó, muitas vezes deparei-me com informações sobre Rotilio Manduca, posto que viveram na mesma época histórica. A fama de Rotílio Manduca como ´justiceiro´ começou cedo, na sua juventude, e corre ainda pelo rio São Francisco e sua lenda mantém-se viva e sempre lembrada em São Francisco, Brasília de Minas, Januária, Manga, Coração de Jesus, Várzea da Palma e Pirapora, principalmente. No livro “Outubro de 1930” Virgílio de Mello Franco informa que a conspiração revolucionária de 1930, no sertão baiano/mineiro do rio São Francisco, foi articulada por Rotílio Manduca e João Duque (Carinhanha). Daí se extrai a importância desse militar-jagunço, que segundo consta, teria duas personalidades. Um dos pontos mais marcantes de sua vida consiste exatamente nessa dupla personalidade. Não raras vezes ele deixava o sertão, a vida de “justiceiro” e subia o rio até Pirapora com destino a Belo Horizonte ou Rio de Janeiro, onde circulava livremente entre os membros da alta sociedade. Sobre ele escreveu Alberto Deodato: “Em 1919, uma tarde, eu estava na Folha, de Medeiros de Albuquerque, de que era redator. Procurou-me um senhor moreno fechado. Apresentou-se-me: - Sou o coronel Rocha, de Brasília, amigo de Rotílio. Ele soube de sua formatura e me pediu lhe entregasse esse presente... Era o anel de grau. Um lindo anel, que sempre usei. Três meses quem me entra pelo quarto a dentro? O Rotílio de carne e osso. Moreno queimado. De óculos pretos. Bem vestido. Magro e ágil. Eu morava, agora, na rua da Lapa, 56. Um quarto de fundo, com duas camas: a minha e a do Ciro Vieira da Cunha. Enfiou a mala no meu quarto. Vinha passar uns dias comigo” (...) Arranjou-se numa rede atravessada. Não podia ficar em hotel. Não por falta de dinheiro. Mas porque vinha de um tiroteio no São Francisco. Viajou léguas e léguas de batina e óculos pretos, a cavalo. Trazia enorme apetrecho de disfarce: batina, barba, bigode, o diabo. De noite para o dia desapareceu, levando tudo que era seu. Um ano depois volta. Vai para um bom hotel. Livre da perseguição. Vai me visitar. (...) Foi aí que conheceu Manoel Bandeira, Ciro e Ribeiro Couto. O fraco desse sertanejo era a admiração pelos intelectuais. De uma feita, passo pela Brahma. E quem vejo – Rotílio Manduca, almoçando com Medeiros e Albuquerque, a quem eu havia apresentado na véspera. Com mais de um mês no Rio de Janeiro, Rotílio ficou amigo do Ministro Ataulpho de Paiva. Não sei como.” No vale do rio São Francisco Rotilio Manduca era um “jagunço”, no Rio de Janeiro convivia com intelectuais. Mas o sertão de Guimarães Rosa era isto mesmo: ´Sertão é onde manda quem é forte com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!´ O vale do rio São Francisco, onde ainda se encontram presentes na memória tantos atos e numerosos fatos invulgares dignos de serem realçadas, está a reclamar de seus filhos, que tenham algum pendor pelas letras, que os façam conhecidos e exponham à vista os seus usos, costumes e tradições. É um vale com história, todavia, ainda não narrada. Ao se expor os anais do grande Vale é necessário ver, além do simples acidente geográfico, a alma do barranqueiro. Pesquisar e escrever sobre Rotilio Manduca é um desafio a todos os membros do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

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