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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 22 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A explosão da cidade Alberto Sena Faz uma data não vou a Montes Claros. Fisicamente, porque nas lembranças estou sempre aí. Não dá para esquecer uma vida vivida intensamente nessa cidade, que possui o céu mais bonito do planeta e o luar mais lindo do sertão. Aí, tenho a sensação de estar mais perto do céu. Talvez seja pelo fato de a cidade estar num planalto. Posso dizer, e se eu estiver errado me corrijam: a nossa geração pegou a parte melhor da vida no arraial. Quem quiser que faça comparação entre o ritmo de vida da cidade na década de 1960, entrante na década de 1970, com as loucuras que vemos nos dias de hoje por meio das manchetes que Paulo Narciso nos manda diariamente pela via eletrônica. Em contato com o jornalista Itamaury Telles, disse a ele que pretendia ir muitas vezes a Montes Claros, mas da vez derradeira que fui, num Natal, caí na bobagem de ir ao centro da cidade para tentar capturar alguns dos meus fantasmas e quase tive crise de pânico. Naquele trecho da Praça Dr. Carlos, bem ali onde era o antigo mercado municipal, um casarão antigo que o prefeito Toninho Rebello demoliu (dizem que este foi o único erro que ele cometeu), bateu-me um desespero que não tive outro remédio senão sair o mais depressa possível dali. Guardadas as proporções, nem na China vi tanta gente naquele vaivém frenético se misturando com bicicletas, motos e carros. Valha-me Deus! Hoje me lembrei dessa cena do Natal, que me remeteu ao tempo em que o coração da cidade pulsava bem ali na Rua Dr. Santos, 103, na casa velha sede de “O Jornal de Montes Claros”, quando um dia o jornalista José Fialho Pacheco, repórter do Jornal “Estado de Minas”, em um das suas primeiras idas à cidade, comentou: __ Vai explodir. __ O quê?! Bomba?! Perguntamos apreensivos. Ele se referia à cidade, que já naquela época experimentava excessivo movimento em meio às estreitas ruas. Quem conhece a nossa história sabe que tudo começou a partir de uma fazenda do bandeirante desgarrado do bando de Fernão Dias Paes Lemes, Antônio Gonçalves Figueira. As ruas de Montes Claros foram feitas mais para o tráfego de charretes e carroças. Montes Claros sempre foi pólo de desenvolvimento. Na época, recebia levas de gente vinda do Nordeste brasileiro, rumo a São Paulo. Muitos eram retirantes e apeavam do famigerado pau-de-arara, fugindo da seca nordestina. Alguns ficavam e se transformavam em “tipos humanos” da cidade. O mais famoso deles foi Tuia, ex-escravo. Diziam que ele tinha mais de cem anos (dele trato em ocasião oportuna). Havia mais: Geraldo Tarugo, Requeijão, Requebra-que-te-dou-um-doce, entre outros. Nos dias atuais, cumpre-se a profecia do jornalista Fialho Pacheco, que, movido pelos impulsos do coração, se transferiu para Montes Claros logo depois, e em seguida, para Juramento, onde foi prefeito, constituiu família e viveu os seus últimos dias. Mas antes de vir para Montes Claros, ele me cedeu lugar no Jornal Estado de Minas, na editoria de Polícia, à época dirigida pelo jornalista e escritor Wander Piroli, autor de livros como “A mãe e o filho da mãe” e “O menino e o pinto do menino”, que já no século passado alertava para o perigo dos estragos que fizemos ao planeta em termos ambientais. Montes Claros de hoje padece os mesmos males que afetam as grandes cidades do País. Não dá para barrar o tempo. Querer a cidade estanque é inimaginável. A renovação perpetua o mundo. Mundo, oh mundo, nave que viaja pelo espaço em alta velocidade hoje em dia. Mas nem de longe, Montes Claros lembra a cidade sobre a qual Rahvi, um dos meus filhos, nascido em Belo Horizonte, emitiu basilar frase ao andar a primeira vez pelas estreitas ruas, ali pela década de 1980, quando ele tinha dois anos de idade: “pai, aqui, até cachorro anda devagar”. A cidade de fato explodiu. Fialho só não previu a extensão da explosão, que ecoa pelo Brasil e o mundo afora. Mas se os montesclarenses não encontrarem maneiras de conter os excessos – os assassinatos, as execuções, os assaltos em plena luz do dia, entre outras ocorrências policiais típicas de cidade grande, dá para imaginar como será a Montes Claros de 2020 ou 2030? Sem querer imitar Fialho Pacheco, mas imitando-o, fica o alerta, enquanto há tempo (há tempo?): é preciso pensar a cidade de amanhã, sob os aspectos político, socioeconômico, urbanístico e ambiental, porque a próxima explosão será com a força e a energia de muitos megatons.

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